Balcão em alta
Presidente faz concessões em demasia aos partidos, para garantir seu mandato, mas terá que negociar de novo para fazer as reformas que ainda restam
Na tentativa de se manter no cargo, o presidente Michel Temer está se enveredando pelo perigoso caminho da permuta permanente. Deu certo na rejeição pela Comissão de Constituição e Justiça do parecer do relator Sérgio Zveiter e pode até funcionar quando a questão chegar ao plenário, no dia 2 de agosto, mas não se avalia o custo desse balcão. Haverá base política para fazer as reformas que ainda restam, como da Previdência, política e tributária, ou o país ficará à espera de um novo presidente em 2018? O que se percebe, hoje, é uma empreitada voltada apenas para manutenção do mandato com uma bancada que mais olha para o próprio umbigo do que para o país.
Já não há nem pudor por parte de alguns parlamentares em se colocarem no jogo. Em “O Globo” dessa quinta-feira, o deputado Wladimir Costa (Solidariedade – PA) deixa claro que o momento é de barganha, pois o presidente está disposto a ceder. “Se me der alguns cargos, eu quero”, destacou. Sobre cargos, aliás, está em curso a indicação da deputada Cristiane Brasil para um ministério. Chegou a ser falado o Ministério da Cultura, mas este foi ocupado pelo diretor da Ancine, Sérgio Sá Leitão. A parlamentar é filha do ex-deputado Roberto Jefferson, o principal dirigente do PTB, disposto a trocar apoio da legenda por algum posto estratégico de primeiro escalão.
Mas o jogo de sedução chega até mesmo à trincheira oposicionista. A deputada Tereza Cristina, líder do PSB, está à frente de um grupo disposto a se mudar para o DEM ou para o próprio PMDB se houver uma boa proposta. Seus correligionários querem a sua cabeça, mas ela não está sozinha. Outros oito parlamentares socialistas podem seguir o mesmo caminho.
O grave desse balcão é o abandono das demandas necessárias ao país, como as reformas, e também de pontos cruciais, como a segurança pública, que saiu da agenda de Brasília. O presidente tinha encontro marcado, nessa quinta-feira, com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, seu vice, Francisco Dornelles, e o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Iriam pedir repasses para o estado, hoje, sob grave crise de segurança. Certamente, além das contrapartidas estabelecidas pela área econômica, devem ter sido instados a também dar apoio ao presidente. A conferir.