Riscos da desinformação

As notícias falsas são um risco para as instituições e para a democracia, o que obriga o eleitor a ficar atento às informações colocadas à sua disposição, especialmente nas redes sociais


Por Tribuna

20/10/2019 às 07h00

Na última quinta-feira, em São Paulo, a Associação Nacional de Jornais (ANJ), durante o seminário “Desinformação: antídotos e tendências”, discutiu o risco das chamadas fake news no processo institucional do país. O ponto preocupante passa pelas eleições municipais previstas para outubro do ano que vem. Com o advento das redes sociais, o que antes eram ações ingênuas tornaram-se um jogo de poder não só para impulsionar candidaturas, mas também para desconstruir eventuais adversários.

Notícias falsas não são novidade na história do mundo. No jornalismo, como foi relatado no evento pelo diretor de redação da Folha de S. Paulo, Sérgio Dávila, o marco zero ocorreu em 1835, em “manchete histórica do ‘New York Sun’, ‘Homens-morcego na Lua’ – que abriu uma série que tornou o jornal o mais vendido do mundo. A farsa foi exposta e coibida por reportagens publicadas pela concorrência”.

Mas o que antes eram ações de marketing para vender jornais – em Juiz de Fora, o caso da noiva num casarão na Rua Gentil Forn foi o mais emblemático – tornaram-se um jogo perigoso de poder. As fake news não são um ato ingênuo tipo boato. Elas têm princípio, meio e fim e alvos previamente definidos para produzir resultados. Na política e na economia, podem levar a resultados drásticos.

Os meios de comunicação criaram antídotos com a implementação de equipes de checagem de dados com uma visão cartesiana, isto é, tendo a dúvida como princípio de apuração. A partir daí, vários episódios foram desvendados e verdades repostas, mas ainda há muito por ser feito, sobretudo por conta da criatividade das redes sociais. Elas são um celeiro de produção e com extremo grau de sofisticação. Num universo de intensa participação popular, e boa parte sem informação, as consequências são imprevisíveis.

A ANJ considera que as eleições municipais podem ser um período preocupante para o eleitor, pois estará sujeito a ações de desinformação que podem influenciar o seu voto. Nos rincões podres apontados por Tancredo Neves, sobretudo naqueles em que a apuração dos fatos é precária, a falsa informação tem forte influência. Nos grandes centros, a mídia tem um papel de curadoria, mas por si só não basta. O cidadão tem que estar apto a examinar o que lhe é entregue pelas redes sociais e avaliar, principalmente, se vale ou não a pena compartilhar.

Em tempos estranhos, nos quais os ânimos se mantêm exacerbados e com baixa adesão ao debate de ideias, as fakes news são matéria fácil no mercado. Ficar atento, pois, é fundamental.

 

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