Além da Lei Seca

Norma implantada há 15 anos no Brasil foi um avanço no combate à violência no trânsito, mas é preciso ir além, com investimento na qualidade das rodovias


Por Tribuna

20/06/2023 às 07h17

A mistura álcool e direção continua produzindo resultados nefastos no trânsito, tanto nas rodovias quanto na área urbana, embora o número de mortes tenha caído nos últimos dez anos, após implantação da Lei Seca, que completou 15 anos de vigência no Brasil nessa segunda-feira (19). De acordo com os dados divulgados pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), em 2010, o índice era de 7 mortes e 27 internações a cada 100 mil habitantes. Em 2021, foram 36 hospitalizações e 5 mortes a cada 100 mil habitantes.

O levantamento revela a redução nos óbitos, mas destaca o aumento nas internações, indicando que o número de acidentes continua preocupante no país. E o Brasil é um dos poucos países do mundo a estabelecer tolerância zero para quem dirigir alcoolizado ou sob efeitos de substâncias psicoativas.No entanto, os acidentes têm várias causas e os números apresentados – 75.983 internações e 10.887 óbitos – são resultado apenas da combinação álcool ou droga com direção. Por outras razões, os dados são muito mais expressivos, indicando a necessidade de se investir em novas frentes.

E aí cabem outros fatores para além da imprudência dos usuários. A qualidade das rodovias brasileiras é crítica, sobretudo as que estão sob o manto dos estados ou da União. O Governo de Minas está para anunciar um novo pacote de privatização das rodovias sob sua jurisdição, mas, diante da inviabilidade financeira, esse número será mínimo. Caberá ao próprio Governo, por meio do DER-MG, ampliar o seu programa de qualificação das demais, a fim de garantir não apenas qualidade, mas também segurança para tráfego e escoamento da produção.

Desde o governo do presidente Washington Luiz, a prioridade pelas estradas criou no país uma das maiores malhas viárias do mundo. Foi um avanço, mas um equívoco posterior, quando o modal ferroviário ficou em segundo plano. As cidades brasileiras viram suas estações se transformarem em museus ou prédios degradados ante o fechamento de importantes vias. Tudo pela prioridade rodoviária.

A Europa não cometeu esse erro. O continente é cortado por ferrovias que escoam a produção e ainda são importantes vias para o uso de passageiros. A ligação entre Paris e Londres – passando sob o Canal da Mancha – é um dos principais feitos da engenharia. O uso dos trens como meio de transporte no Brasil ganhou o viés de turismo, enquanto as estradas passaram a desempenhar um papel pleno de mobilidade. Se houvesse a conjugação dos dois modais, o cenário seria outro. A consequência mais visível é a qualidade das rodovias.

Para ficar só no caso de Juiz de Fora e seu entorno, a BR-267 é um clássico exemplo de descaso. Importante corredor ligando a Zona da Mata ao Sul de Minas, tornou-se um arremedo de rodovia, com buracos em demasia e falta de acostamento. A implantação da Lei Seca foi um investimento de grande relevância, mas, para garantir a segurança, as demais frentes também carecem de investimento. Esse é o grande desafio.

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