Recado das ruas
Pesquisas continuam apontando a desconfiança do eleitor com a instância política
O aquecimento da economia ainda não mudou a percepção das ruas sobre a instância política. Ao contrário, em nova rodada de pesquisas, o Instituto Datafolha indicou que 45% dos eleitores reprovam o trabalho de deputados federais e senadores – dez pontos percentuais a mais do que no final de agosto. Apenas 14% aprovam, numa oscilação negativa de dois pontos percentuais em relação ao último levantamento. O bônus fica apenas com a equipe econômica, embora o Congresso tenha sido parceiro, sobretudo na aprovação da reforma da Previdência.
A onda de renovação capitaneada pela candidatura do presidente Jair Bolsonaro mudou o perfil do Legislativo, bastando ver o desempenho do PSL – partido pelo qual o presidente disputou -, que saiu de uma bancada de apenas um deputado para 52, ficando atrás apenas do Partido dos Trabalhadores. Não foi, no entanto, o único a crescer. A novidade, porém, foi o discurso que chegou ao Congresso sob forte viés conservador.
Um ano depois, a agenda pouco mudou, e pode ser esse cenário a causa da decepção dos entrevistados. Como a renovação dos mandatos só vai ocorrer em 2022, há dados para levar essa questão para o pleito municipal.
Em Juiz de Fora, a média de renovação fica acima dos 10%, mas deve crescer no ano que vem perante a desistência de alguns parlamentares, dispostos a buscar novos horizontes ou passar o bastão para pessoas próximas. Mesmo assim, o recado das ruas continua sendo dado. Com as redes sociais, a população tem considerado que já não depende tanto dos políticos, o que é ruim sob a ótica democrática, mas positivo no sentido de provocar um novo discurso nos parlamentos. O velho modelo está se esgotando.
Essa inflexão, no entanto, não é um fenômeno localizado, como se os políticos brasileiros fosse os únicos a viver um ciclo de rejeição. Outros países vivem situação semelhante, bastando olhar até mesmo para o chamado primeiro mundo. Os americanos assistem a um presidente passar pelo impeachment na Câmara Federal – mas vai ser mantido pelo Senado – a despeito de a economia americana estar indo de vento em popa. No Reino Unido, o polêmico Boris Johnson, defensor da saída da União Europeia, derrota os trabalhistas, ampliando a força dos conservadores no Parlamento.
A percepção é de que a população vive um ciclo de experimentalismo, adotando mudanças frequentes ao ritmo das redes sociais. Os políticos devem ficar atentos a esse fenômeno e se adaptar aos novos tempos. Caso contrário, ficarão num cenário de ampla fluidez, sob a permanente suspeita do eleitor.