Metas ambiciosas
Presidente eleito retoma o protagonismo do Brasil na discussão climática, mas terá dificuldades para implementar as metas que ele mesmo anunciou no Cairo
No discurso mais esperado da COP27, conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva definiu a esperança como resumo da contribuição do Brasil na discussão que ganha relevância a partir das próprias manifestações da natureza: “a esperança combinada com uma ação imediata e decisiva, pelo futuro do planeta e da humanidade”, resumiu.
O líder brasileiro, de fato, colocou o país, de novo, no protagonismo mundial e traçou metas ambiciosas, como o combate sistemático ao desmatamento, mas admitiu que tais medidas não são levadas adiante em compartimentos estanques. O Brasil precisará de apoio internacional, não apenas sob o viés da solidariedade, mas com injeção de recursos para enfretamento a uma situação de grande preocupação global.
Ele tem razão quando disse que as mudanças climáticas afetam a todos, mas de maneira mais aguda aos países mais pobres – o que é uma realidade. A comunidade mundial olha para o Brasil como um dos principais indutores de políticas climáticas, por ter em seu território a maior parte da Amazônia, mas precisa, por seu turno, fazer a sua parte.
Isso não se dá apenas com repasses de recursos – o que é uma necessidade -, mas também pelo cumprimento do dever de casas. Os chamados grandes têm recursos, mas são os principais geradores dos problemas que ora afetam o clima, com suas emissões de gases que foram mantidas em patamares acima dos níveis de segurança, mesmo diante de promessas e de alertas dos ambientalistas.
Neste mesmo espaço, foi dito, logo no início da COP, que até 2050 a camada de gelo do Ártico tende a se desfazer, trazendo consigo sérias consequências. As informações dos pesquisadores, na verdade, são café requentado, pois não é de hoje que alertam para as consequências das ações e inações humanas. Já na ECO-92, no Brasil, talvez a maior conferência sobre meio ambiente de todos os tempos, já foram manifestadas preocupações.
Depois dela vieram outras cúpulas, assinados acordos, mas de pouca repercussão. Em Kioto, os países mais desenvolvidos prometeram reduzir ao máximo suas emissões. No inicio agiram nesse sentido. Mas pouco avançaram e o tema volta à mesa de discussões como se fosse uma novidade.
O presidente eleito terá grandes desafios pela frente, pois combater o desmatamento não é algo que se resolve apenas com palavras. É preciso sentar com os atore do setor para discutir alternativas, a começar pelo agronegócio, que dever continuar como uma das principais commodities do país sem, necessariamente, comprometer o meio ambiente. É possível crescer sem esse dano?
São perguntas como essa que vão permear as discussões do próximo governo, que despertou a atenção dos participantes da cúpula e, como disse o próprio Lula, retomou a esperança, palavra que pode ser resumida em ações práticas e solidárias, que envolvem, necessariamente, os demais países da aldeia global.