Gestos de intolerância

Em tempos de intolerância, a violência das ruas também está sendo transferida para o esporte, uma atividade que prima pela inserção social


Por Tribuna

18/10/2019 às 06h53

Enquanto o Supremo Tribunal Federal discute a prisão em segunda instância e os partidos passam por duras discussões internas, como ocorre com o PSL, do presidente Jair Bolsonaro, uma questão tem ficado à margem não apenas dos debates nos meios de comunicação, mas também nas instâncias de poder. Trata-se da violência nas arquibancadas, dentro dos estádios e nas ruas, antes ou depois de competições. A baderna tornou-se lugar comum, colocando em risco a integridade de simples mortais que vão aos campos de futebol apenas para assistir aos espetáculos.

As ditas torcidas organizadas, que há tempos têm estado na mira do Ministério Público, mas continuam ditando as normas, agem sem temer qualquer restrição legal, criando cenas de vandalismo que espantam. Também praticam a violência moral, quando explicitam o racismo e posturas de cunho sexual.

Num tempo de informações em tempo real, tais comportamentos são exportados, bastando ver o que tem acontecido pelo mundo afora. No início da semana, numa partida entre as seleções da Inglaterra e da Bulgária, torcedores búlgaros não esconderam seus preconceitos, mostrando sua intolerância por meio de gestos e faixas. A polícia disse que já os identificou, e 15 já estão presos. Mas isso só não basta. A punição tem que ser mais dura, a fim de banir tais atitudes da instância esportiva.

Já que campanhas não bastam, o banimento dos autores de tais insanidades e de seus patrocinadores pode ser uma alternativa, sobretudo pelo envolvimento de dirigentes com tais organizadas. Quando esses falsos torcedores invadem centros de treinamento para colocar o dedo no rosto dos atletas, não o fazem sem algum consentimento. E onde estão os órgãos responsáveis por cumprir as normas?

Há cerca de um mês, o jogador Bruno Henrique, do Palmeiras, passeando ao lado de sua esposa, foi assediado por um desses inconformados (e o time está em segundo lugar no Campeonato Brasileiro), proferindo ofensas ao atleta. Sua mulher interveio e cobrou respeito. Constrangido ao ser lembrado que o protesto é na arquibancada, e não na vida privada dos profissionais, ele recuou. Mas poderia ter sido algo mais grave.
Na noite de quarta-feira, torcedores do Vasco foram agredidos em plena rua, no Rio de Janeiro, por vestirem a camisa do clube. São cenas que se repetem ao longo de décadas.

O esporte é um dos principais indutores da inserção social, mas, quando a intolerância se explicita nas arquibancadas ou nos CTs, há algo errado. Agredir em nome da paixão não faz sentido de forma alguma. Nem no esporte, nem na vida.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.