Segurança pública e eleições
A Segurança Pública inevitavelmente será pauta das eleições de 2026, mas antecipação do debate inibe acordos entre a União e os Estados
Cotado para ser um dos candidatos à Presidência da República nas eleições de 2026, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem como primeira pendência a sua filiação partidária. Como um dos principais quadros do PSDB, ele tem convites de várias legendas para mudar de rumo ante o processo de desidratação que afeta o ninho tucano. Ainda acredita na recuperação da legenda, mas não fecha as portas para uma eventual mudança. Enquanto isso, celebra programas de seu governo, especialmente na área de segurança pública ante a queda de crimes no estado após a adoção do programa RS Seguro, cuja inspiração, segundo ele, foi a governança do Condado de Staten Island, em Nova York, onde passou vários dias participando de eventos e acompanhando de perto a implementação de ações de proteção.
O Rio Grande do Sul faz parte do Consórcio das Regiões Sul e Sudeste – também fazem parte Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo -, que tem resistido aos projetos do Governo federal sob o argumento de ingerência deste em demandas dos estados.
O Ministério da Justiça tem dito que não se trata disso, mas, ontem mesmo, o jornal Estado de S. Paulo, a quem Leite deu entrevista, divulgou também que o Governo federal prepara duas propostas para a segurança pública, em uma tentativa de ter o que exibir em 2026 durante a campanha eleitoral.
De acordo com o Estadão, além da PEC, que deve dar poder de polícia às guardas civis e aumentar as atribuições das polícias Federal e Rodoviária Federal, a pasta prepara uma nova lei antimáfia, “que já está sendo chamada no ministério de Lei Lincoln Gakiya, o promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC)”.
São boas intenções, mas, enquanto não houver uma sincronia de propósitos, tudo continuará como antes: o Governo federal com suas ações e as polícias estaduais, sem coordenação, atuando isoladamente.
A questão é que tanto Brasília quanto os estados também se movem voltados para as eleições do ano que vem, o que atrapalha ainda mais as negociações, sobretudo ante a possibilidade de os governadores também estarem em palanques distintos, o que faz deles potenciais adversários. E aí, ninguém quer colocar farinha na farofa do outro.
Nesse impasse, quem perde é a população, que assiste ao aumento da violência e à movimentação das facções, que, ao contrário dos governos, atuam cada vez mais integradas, superando suas idiossincrasias em favor de seus projetos de poder. Foi-se o tempo em que elas atuavam em compartimentos estanques. Hoje, trocam informações e fazem verdadeiros consórcios para intercâmbio de armas e drogas.
O projeto do Governo estabelece uma legislação mais dura, atacando especialmente as fontes de financiamento das quadrilhas, mas é necessário integrar suas ações com os estados. Projetos existem, mas, se os políticos estiverem voltados apenas para a eleição do ano que vem, tudo será em vão.
Os estados discutem medidas de combate ao crime, mas a integração das polícias precisa sair da armadilha das eleições de 2026