Fidelidade partidária

Partidos vivem momento de turbulência por conta da distribuição de recursos e pelo inconformismo de parlamentares com ordens dos dirigentes


Por Tribuna

17/10/2019 às 06h59

Sete deputados do PDT e do PSB tinham agenda na Justiça Eleitoral para pedir sua desfiliação sem o risco de perder o mandato. As legendas passaram a punir seus infiéis desde quando votaram a favor da reforma da Previdência na Câmara, contrariando orientação dos diretórios. Os deputados alegam que o fechamento de questão ocorreu antes de o texto final da reforma estar concluído. Não se trata de uma situação inédita. Agora mesmo, o PSL, principal base do presidente Jair Bolsonaro no Congresso, vive momentos de turbulência perante a fidelidade de parlamentares ao seu principal representante, e há outros que fecham com o presidente do diretório nacional.

Os dissidentes do PDT e do PSB, no campo da oposição, são parlamentares da nova safra, que tentam romper o velho modelo do caciquismo, no qual os dirigentes agem como verdadeiros xerifes, definindo o que deve ou não ser feito sem profundas discussões. Em boa parte, as decisões são tomadas em torno de interesses, sem ouvir o ponto de vista dos próprios deputados. No PDT, o caso emblemático envolve a deputada Tabata Amaral, graduada em ciência política e astrofísica pela Universidade de Harvard, que ingressou no movimento “Acredito” defendendo mudanças no modelo político do país.

O movimento diz que não é partido, mas tem uma práxis próxima destes ao definir programas, visão ideológica e projetos. Tabata quer sair do PDT, mas não tem a pretensão de criar uma nova legenda. Quer, sim, se abrigar na que combine com o seu perfil ideológico. É do jogo, mas também é do jogo a cobrança de fidelidade partidária que ora gera tanta discussão.

Tais impasses são fruto da inação do próprio Parlamento, que, ao fazer a reforma, mais se preocupou com o viés eleitoral do que político. Várias questões que deveriam entrar na agenda ficaram para trás. O Parlamento perdeu um grande momento para modernizar a política. Não o fez e agora se vê diante de uma série de impasses que afetam as suas próprias representações.

Como não há prazos para mudanças em decorrência dos prazos eleitorais, espera-se que questões simples, como o fim das coligações, reduzam o excessivo número de partidos, que, em vez de darem margem para ampliar a representatividade, são meros espaços de negociação, sobretudo em torno de distribuição de verbas e de tempo de televisão. A regra mudou.

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