UM NOVO COMEÇO
Se faltava alguém, a lista, agora, está completa. A inserção do nome do presidente em exercício, Michel Temer, na relação do delator Sérgio Machado fecha toda a cadeia de comando do PMDB no escândalo das propinas, afetando também o PSDB, por meio de seu presidente, senador Aécio Neves. É óbvio que todos têm o direito de defesa, e os que já o fizeram argumentam ser vítimas da sanha do ex-presidente da Transpetro, um homem vingativo e que colocou todo mundo no mesmo balaio, sem provas formais. No jus sperniandi, essa postura é justificável, mas, quando uma pessoa se propõe a fazer delação premiada, tem não apenas que citar nomes como também apresentar provas, no mínimo, razoáveis. O presidente da Transpetro cumpriu esse requisito?
De qualquer modo, as denúncias de Sérgio Machado indicando que os demais partidos, e não só o PT, usufruíram das benesses do caixa das estatais sinalizam para a necessidade de um debate profundo, que não se fecha apenas numa reforma política sobre o futuro das instituições. O país vive um momento ímpar, no qual não há “sobreviventes”. As próximas denúncias, a sere formalizadas pelos diretores da Odebrecht, em fase de conclusão, devem não apenas inserir novos envolvidos como enfatizar muitos que já estão citados em outras delações. Poucos vão sobrar.
Até quando esse processo dominó vai continuar ninguém sabe, mas é fundamental buscar caminhos que levem a uma reforma plena, capaz de, além de colocar o país nos trilhos, impedir o uso desmesurado do dinheiro público. Para tanto, porém, outras instâncias de poder também terão que ser avaliadas. É quase um novo começo, com cicatrizes fechadas, mas suficientes para manter viva a memória dos atores do atual processo. Só dessa forma, ciente dos erros, mas em condições de se refazer, as estruturas de poder terão meios de abrir um novo ciclo.
Hoje, as ruas estão estupefatas a cada denúncia, o andar de cima, desnorteado, ante a incerteza de ser o próximo denunciado, e o projeto de país, comprometido.