FOGO AMIGO
O Governo Temer comete o grave erro de fazer concessões em excesso, para se manter, e deixar prosperar nos bastidores, a ideia de que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está fragilizado. São duas questões que seus assessores consideram normais, mas que podem comprometer de vez a sua gestão. Foi por conta de benefícios além da conta que a presidente Dilma Rousseff conduziu o país para o buraco econômico. Basta lembrar as renúncias fiscais no setor automotivo e de linha branca, que, de fato, aumentaram o consumo, mas causaram danos irreversíveis no decorrer do tempo, além da redução das tarifas de energia elétrica, que, mais tarde, voltaram dobrado para o bolso do consumidor. Quando abre mão de recursos em nome de políticas demagógicas, o Estado está, na verdade, comprometendo o futuro coletivo, levando todos para um ciclo de incertezas e para uma crise sem data marcada para acabar, a despeito de alguns sinais no fim do túnel.
Na negociação com os estados, a área econômica se permitiu conceder benefícios diferenciados, mas os pedidos foram além da conta, sobretudo dos estados do Norte e do Nordeste, onde os níveis econômicos são bem mais modestos. Só que, ao beneficiá-los, em detrimento dos demais, joga-se a conta para quem não tem como e nem deve pagá-la. Ao mesmo tempo, alguns setores palacianos iniciam uma tímida fritura do ministro. Trata-se de um equívoco, pois, se há confiança de mudanças, ela está depositada exatamente em Meirelles. Até seus adversários sabem disso. Quando deixou o Governo, o ex-presidente Lula disse à sua sucessora que o ministro era a melhor opção. Ela não aceitou, e deu no que deu. Insistir, agora, nessa nova feitiçaria é dar tiro no próprio pé.
O grave desse enredo, porém, é que, quando a economia perde, todos perdem, especialmente aqueles que ora apostam nas mudanças. Se quiser levar adiante a sua passagem pelo Planalto pelos próximos dois anos, Temer tem que manter os pés no chão e evitar os conselhos demagógicos que levaram o país ao caos.