Eleição estratégica
O país acompanha com grande distanciamento as articulações para a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, sem saber, talvez, da sua importância. O presidente da instituição tem poderes inimagináveis no atual modelo político, como foi possível ver, aliás, durante a passagem de Eduardo Cunha pelo cargo. Não fosse ele, certamente, a ex-presidente Dilma Rousseff, embora sangrando, ainda estivesse no posto. Ele antecipou a pauta, acelerou o processo, e o país assistiu à troca de guarda. O novo dirigente – podendo ser o mesmo, no caso Rodrigo Maia – tem uma agenda distinta. Em vez de cassações e punições de pares, precisa acelerar reformas importantes que estão na pauta do Legislativo, a começar pela da Previdência Social e da própria política.
Sem eleições, 2017 é um ano emblemático, pois, distante da pressão das urnas, os políticos têm a chance de se dedicarem a uma agenda de interesse exclusivo do país. As mudanças, necessárias para reverter o jogo, carecem de discussão, sim, mas não podem ficar apenas no jogo de palavras, próprio daqueles que não querem resolver o problema. Um presidente ativo tem meios de agilizar a pauta e de votá-la. O ciclo de incertezas, sobretudo econômicas, só tende a mudar quando as regras ficarem claras especialmente para o setor produtivo. Os bons sinais ora registrados, com redução da inflação e queda dos juros, só se consolidarão quando o país tiver um estrutura jurídica capaz de garantir tais mudanças. Mais ainda, um cenário de longo prazo para facilitar a atração dos investidores.
Por conta disso, o distanciamento das ruas ao que ora ocorre em Brasília deveria ser revisto, já que a disputa é um passo para preparar o país para outros avanços, inclusive das reformas proteladas pelos próprios parlamentares, quando se trata de mexer diretamente em seus interesses.