Cortar na carne
Sem reforma, estados e municípios ficarão inviabilizados economicamente para implementarem seus projetos
Na visita ao Grupo Solar de Comunicação, na manhã do último sábado, o governador Romeu Zema reafirmou seus propósitos de modernizar o Estado e enxugar os custos da máquina pública, mesmo reconhecendo ser um pacote amargo que até hoje não passou perto dos planos de seus antecessores. Ele considera a PEC da reforma da Previdência, que inclui estados e municípios, fundamental para o processo, mas assegurou que, se o texto não passar pelo Congresso, não terá dúvida em tomar a iniciativa em Minas. “Já temos o projeto pronto para ser encaminhado à Assembleia”, destacou.
A proposta do governador é ousada, sobretudo às vésperas de um período eleitoral, mas ele sabe que não há outro caminho. A Previdência é uma bomba-relógio prestes a causar danos irreversíveis para os próprios beneficiários, daí a necessidade de sua implementação. Boa parte dos municípios, entre eles Juiz de Fora, já utiliza recursos do Tesouro para cobrir o rombo, fato que compromete a própria capacidade de investimento da Prefeitura, hoje às voltas com uma série de obras que precisam ser realizadas, mas barradas pela falta de recursos.
Trata-se, é fato, de um remédio amargo, mas que aponta para o comportamento dos próprios administradores, que, mesmo sabendo das consequências, pouco fizeram para mudar a situação. E nesse pacote estão gestões de vários modelos ideológicos que preferiram ficar bem com os servidores públicos mesmo sabendo que, mais dia, menos dia, eles seriam as vítimas dessa ação demagógica.
É pouco provável que deputados e senadores estendam a medida para os demais entes federados em decorrência das eleições de 2020. Embora somente alguns tenham planos de disputar prefeituras, a maioria entende que contrariar as ruas em momentos eleitorais pode repercutir no futuro, no caso, em 2022, quando o Congresso estará sob avaliação das urnas.
Trata-se, no entanto, de um grave equívoco, pois, com as redes sociais modulando diariamente a opinião pública, quando a situação se tornar irreversível, será possível apontar os que jogaram para a plateia e os que, pensando no futuro, tentaram mudar os modelos previdenciários.
Cortar benefícios não é algo simples, bastando ver os conflitos pelo mundo afora, especialmente na França, em que a previdência também é o gargalo do governo Macron. O presidente francês vive dias difíceis ao tentar recompor a economia e não se sabe até quando irá suportar a pressão de todos os sábados dos coletes amarelos. Esse é o novo mundo.