Águas de abril
Temporais se tornam um desafio permanente para as metrópoles, a maioria delas sem infraestrutura para aguentar o fluxo das águas
Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, em sua antológica obra musical Águas de março, enumera o fim do verão, mas os tempos, também nesse aspecto, estão mudando. As águas fechavam o verão e também davam um tempo, só voltando em setembro ou outubro. O Rio de Janeiro amanheceu sob o signo do caos devido ao temporal que caiu na noite de segunda-feira e se prolongou pela madrugada. Em Juiz de Fora, a situação também ficou crítica, mas bem distante da vizinha metrópole fluminense, que decretou estado de crise, o maior nível de alerta em tempos de temporais.
O ciclo das águas dá margem a várias discussões. Uma delas em torno do comprometimento ambiental provocado pelo próprio homem, com reflexos diretos na natureza. Se antes era possível prever o comportamento das quatro estações do ano, isso já não é tão fácil a despeito da sofisticação dos equipamentos. Faz calor no inverno, frio no verão, e outono e primavera vivem situações de plena indefinição. Mesmo assim, as políticas ambientais são precárias, reforçadas por discursos que rejeitam, por exemplo, o efeito estufa.
O outro dado é a situação das cidades. As metrópoles, cada vez mais impermeabilizadas e com ocupações desordenadas, se tornam caóticas em tempos de chuvas. As políticas para o setor não funcionam com reflexos diretos, sobretudo nas camadas mais carentes residentes nas chamadas áreas de risco.
Longe dos padrões do Rio, Juiz de Fora também possui problemas por sua situação geológica. São muitas as encostas. Apesar dos claros investimentos na contenção, é fundamental que a comunidade também participe do processo, não descartando lixo em regiões impróprias, por conta dos danos que provoca. A educação ambiental tem que ser uma questão recorrente nas escolas para a propagação de tal conhecimento.
Os governos, por seu turno, têm que implementar investimentos permanentes nas ações preventivas. A cidade, de uns anos para cá, tem registrado alagamentos em locais que até bem pouco tempo não viviam tal situação. Quando trocou a rede pluvial da Avenida Rio Branco, no início dos anos 1980, o prefeito Mello Reis acabou com os alagamentos da principal via da cidade, mas o adensamento populacional levou problema para a periferia. Até hoje, a despeito de tantas administrações, ainda não se encontrou uma saída para os alagamentos nos bairros Cerâmica e Industrial, o primeiro com pontos abaixo do nível do Rio Paraibuna.
A falta de recursos é um dado presente, exigindo, também nesse aspecto, ações políticas nas instâncias estadual e federal, para a captação de verbas para tal demanda. Com a natureza instável, é fundamental o investimento permanente.