COP 30: Ainda há tempo para mudar

Se as cúpulas ambientais, como a COP 30. avançarem, e os investimentos na ciência saírem do discurso, ainda é possível conter a instabilidade do clima


Por Paulo Cesar Magella

09/11/2025 às 06h00

Em 1992, o Brasil apontou para o mundo a necessidade de discutir políticas para estabilização do clima, em evento que contou com a presença de cerca de cem chefes de Estado, entre eles o vice-presidente George Bush, que mais tarde seria presidente dos Estados Unidos. Foram tiradas várias decisões, reforçadas em outros fóruns, sem, no entanto, chegar ao patamar ideal para evitar tragédias anunciadas, muitas delas já em curso. Nesta semana, mais de 140 pessoas morreram na Tailândia e no Vietnã em decorrência de um furacão. No mês passado, a Jamaica, no Caribe, foi devastada.

É fato que tais fenômenos são sazonais, mas a intensidade tem se acentuado no decorrer dos anos, resultado da instabilidade climática. O aumento da temperatura é um dado real, afetando os oceanos e formando uma perversa combinação cujos resultados são trágicos.

Na abertura da COP 30, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o aumento da temperatura do planeta, fala que foi replicada por diversos participantes da conferência, entre eles o presidente Lula. O debate tem avançado, mas as medidas efetivas ainda são aquém da necessidade.

Uma das demandas é o financiamento de projetos, como o de manutenção das florestas tropicais. Os investimentos públicos precisam de reforço do segmento privado, uma vez que, ao fim e ao cabo, todos estarão no mesmo barco.

A discussão ambiental também precisa afastar a desinformação. Ignorar o efeito estufa, por exemplo, é um contrassenso, pois suas consequências são sentidas no dia a dia. O mundo precisa renovar suas práticas para garantir a sobrevivência das próximas gerações.

Em entrevista à Tribuna, o pesquisador Nathan Barros, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora, enfatizou que “temos que entender que a forma como produzimos já não é mais suficiente. Essa discussão deve vir no sentido de que existem opções mais sustentáveis, e as pessoas precisam discutir isso”. Ele não se contrapôs ao atual sistema de produção, mas alertou que é preciso evoluir para modelos sustentáveis.

Da mesma forma, é preciso inovar na geração de energia. Insistir nos combustíveis fósseis é um passo atrás não só por conta de ser um produto de uma só safra, mas também pelas consequências de sua exploração. Como há opções, não faz sentido tal persistência. A energia limpa é uma realidade, mas ainda insuficiente para atender à demanda global. Com investimentos em pesquisa será possível mudar esse cenário.

O secretário-geral da ONU disse que o mundo fracassou, mas a ciência garante que ainda é possível, pelo menos, estabilizar o jogo. O que, no entanto, não se faz apenas com palavras.

 

 

 

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