JOGADA DE RISCO


Por Tribuna

09/07/2016 às 07h00

A renúncia do deputado Eduardo Cunha, que abriu mão da presidência da Câmara para preservar o mandato parlamentar, é o típico caso em que se cede os aneis para não perder os dedos. A dúvida, agora, é se, para ele, valeu a pena, uma vez que, sem o poderoso cargo, tornou-se mais frágil ante os próprios colegas. Nos bastidores, diz-se que o acerto foi para sua absolvição no Conselho de Ética, no qual já tinha sido condenado quando a maioria acolheu os argumentos do relator. Cunha quer virar o jogo, num gesto próprio de quem conhece os bastidores e, sobretudo, os colegas de casa, que costumam atuar com base no espírito de corpo, defendendo os seus custe o que custar.

Essa postura era comum em outros tempos, mas com a pressão das ruas, sobretudo nas redes sociais, o jogo virou, e Cunha pode ser mais um a cair por não entender os novos tempos. O velho discurso de vítima, que se mostrou claro quando quebrou a frieza que sempre teve para expor lágrimas na renúncia, já não tem guarida, ainda mais quando contra ele existem tantas evidências. O malabarismo jurídico e as ações nos bastidores já não se sustentam. Tirá-lo de cena é, antes de tudo, pedagógico, por apontar que não há intocáveis. Cunha, ao olhar dos adversários do PT, prestou um serviço ao país ao acolher o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff; ao olhar dos petistas, comprometeu todos os argumentos jurídicos e técnicos para cumprir o papel de vingador.

O que deve prevalecer, agora, porém, não é nenhum dos dois lados, mas a lei. O deputado se colocou acima das normas jurídicas ao adotar firulas para fugir ao regimento e à própria Justiça, mas esgotou e o país cansou. Num cenário de moralização, não faz sentido mantê-lo com um mandato quando suas próprias ações foram contra o decoro. Quando disse que não tinha contas no exterior, e tal fato foi comprovadamente desmentido, ele contrariou norma básica da própria Câmara. Daí para para frente, o que se viu foram manobras para protelar sentença, o que não cabe mais ante a consistência das provas que existem contra ele.

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