Focos de resistência
Projetos que não contam com a simpatia das ruas dificilmente são aprovados em períodos pré-eleitorais
A aprovação em primeira votação da PEC extraordinária, pela qual estados e municípios são inseridos na reforma da Previdência, não significa, necessariamente, que vá progredir, especialmente na Câmara Federal, espaço em que se situam as principais dificuldades para a sua aprovação. Mas foi um avanço, sobretudo por sinalizar que a matéria não saiu de cena a despeito de a reforma federal estar próxima de sua promulgação.
O Senado tem em seus quadros muitos ex-governadores, a começar pelo relator Tasso Jereissati, que conhecem de perto o drama dos executivos quando a conta não fecha. Num cenário de mais deveres do que haveres, a situação se agravará se nada for feito. Mudar a previdência federal foi um importante passo, mas, se prefeitos e governadores não tiverem o mesmo benefício, os riscos para o futuro são grandes, sobretudo quando já se sabe que a maioria das administrações, dado que já foi por mais explorado nesse espaço, não consegue suprir os benefícios sem mexer no tesouro. Juiz de Fora está entre elas.
Embora tenha sido aprovada pelo Congresso, a reforma foi mal vendida à opinião pública, que formou um importante núcleo de resistência que chegou ao Parlamento. Na guerra da comunicação, o Governo perdeu, e o texto só passou por ação direta de lideranças como o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre, que preside o Senado. Fosse o texto mais bem apresentado, e com grande antecedência, provavelmente a situação seria outra.
Anos eleitorais costumam ser perversos para discussão e aprovação de temas de grande repercussão. Dão luzes para discursos de toda ordem e são barrados quando apresentam indícios de contrariar a opinião pública, independentemente de sua importância para a própria população. Em 2020, prefeitos e vereadores serão avaliados pelos eleitores, mas, como exigem a solidariedade dos parlamentares, são raros os momentos em que estes votam contrariando o pensamento coletivo.
A prova material está na intenção da equipe econômica de fazer caixa com a extinção de um expressivo número de municípios. Os parlamentares sabem dos custos que cada um representa, mas já colheram a resistência popular, e dos prefeitos e vereadores também, que querem que tudo continue no mesmo lugar.