TROPA DE CHOQUE
Chega a impressionar a falta de pudor nos modos de agir da tropa de choque do deputado Eduardo Cunha na Câmara Federal. Seus membros não escondem suas táticas e nem se incomodam com as robustas provas que pesam contra o ex-presidente da Câmara. Querem mantê-lo no cargo ou, quando muito, uma punição branda, que passaria apenas por uma advertência, quando as denúncias pedem não apenas a cassação do seu mandato mas também a suspensão de seus direitos políticos, pois, não sendo assim, ele ficaria de folga apenas por dois anos, podendo voltar no pleito de 2018. A sustentação jurídica da bancada de Cunha é a mesma que livrou a ex-presidente Dilma de ficar sem seus direitos políticos, embora, na essência, os dois casos não tenham a menor semelhança. Cunha é acusado de corrupção, a ex-presidente ficou longe disso.
Resta aos demais parlamentares cumprir suas obrigações, o que deve ocorrer a partir do dia 12, quando a matéria entra na agenda da Câmara. O espírito de corpo que pauta a história da instituição ao curso dos anos não pode ser a tônica dos debates, sobretudo por conta das muitas e consistentes denúncias. Ademais, o deputado não pode ter tratamento diferenciado, como querem os seus, apenas por ter sido presidente do Legislativo. A isonomia vale para situações iguais, e, como ele, outros tantos envolvidos devem ter o mesmo destino: perder o mandato.
Embora as atenções das ruas estejam voltadas para as eleições municipais, o debate nacional não pode sair da agenda, sob o risco, aí sim, de a tropa de choque agir à sorrelfa e reverter os votos que hoje seriam pela punição do parlamentar. Mais do que isso, que consiga colocar em prática ações pouco republicanas, próprias do jogo bruto que Cunha patrocinou durante sua gestão. Com uma interpretação própria do regimento interno, usou e abusou das prerrogativas, tentando fazê-lo, agora, para manter o próprio pescoço.