O PASSADO CONDENA
A assessoria do presidente em exercício, Michel Temer, deve ser mais atenta na avaliação de currículos e de nomes que ele pretende convidar ou já convidou para fazer parte de seu Governo. Já derrapou duas vezes com os ministros Romero Jucá, do Planejamento, e Fabiano Silveira, da Transparência, que se viram obrigados a sair dos postos por conta de denúncias contra eles. Agora, a bola da vez é a secretária de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes. Na edição de sexta-feira, o jornal Folha de São Paulo revelou que ela fez parte de uma articulação criminosa que desviou R$ 4 milhões para uma ONG fantasma. Naturalmente, ela negou, mas a denúncia está na Procuradoria Geral da República.
Tendo à sua disposição vários instrumentos de informação, o chefe do Governo não pode ser surpreendido por tais inconveniências, sob o risco de bater recordes de demissões. Mais do que isso, de sofrer desnecessários desgastes por conta de indicações, sobretudo políticas, próprias para atender interesses partidários em detrimento da qualidade do indicado. Essa dependência tem sido perversa ao curso da história, pois os partidos não fazem avaliação dos nomes, cumprindo apenas o ritual de indicar de acordo com suas conveniências.
Os tempos, aliás, são emblemáticos. Apontar o dedo tornou-se uma rotina e gravar conversas, quase uma necessidade. Não passa um só dia sem que alguém abra o jogo, denunciando não apenas indicados para os postos de poder, mas também personagens da vida pública que estão, sistematicamente, submetidos ao olhar das ruas. Nesse salve-se quem puder, biografias estão sendo desconstruídas. Preocupados com o grampo, políticos e os seus chegados adotam a tática do silêncio. Mas, em tempos de Lava Jato, o passado os condena.