POLÍTICA PÓS-MODERNA
Na avaliação de cientistas políticos e sociais, o resultado das urnas foi emblemático ao apontar a fragmentação do quadro político, a desidratação de algumas legendas, como o Partido dos Trabalhadores, e a eleição de personagens que fizeram discurso apolítico – embora fossem -, utilizando uma independência que só vale para os palanques, mas que se revelará frágil a partir da posse. Sem acordo com os partidos e sem ler na cartilha dos governos, estadual e federal, tais personagens vão cair em contradição quando forem buscar apoio. Mas ainda é cedo para depurar o que as urnas disseram no último domingo, pois o próprio eleitor ainda se mostra indeciso em torno do que virá pela frente. Há, de fato, um novo cenário pós-moderno que ainda precisa ser decifrado.
Esse enigma não se revela apenas no Brasil. A uma semana das eleições, a América, a maior democracia do mundo, se vê envolta em contradições. As pesquisas ora apontam a vitória da democrata Hilary Clinton, ora pendem para o republicano Donald Trump. Nenhum dos dois conquistou corações e mentes do eleitor, sendo confrontados, a cada dia, por um problema. O magnata tropeçou na própria língua enquanto a senadora se vê às voltas com e-mails que deveriam ser reservados, chegando ao noticiário a cada dia. O FBI, a Polícia Federal de lá, está no seu pé, num momento crítico da campanha.
Os americanos não se convencem com nenhum dos dois projetos, mas Trump usa a retórica de Alexandre Kalil, em Belo Horizonte, ao dizer que não é político, mas sabe o que fazer para atender aos anseios do povo. Lá, talvez, pois o presidente, a despeito de todo o poder, se submete a regras próprias da burocracia e do poderoso Congresso. Abaixo da linha do Equador não é bem assim. Além do forte lobby dos interesses, os chefes de Executivo ainda se defrontam com uma máquina pública inchada e com recursos cada vez menores. Governar por aqui não é só discurso.