De cima para baixo

A estratégia partidária para ganhar tempo na TV e bloquear a ascensão de adversários não permite debate sob o viés ideológico


Por Tribuna

04/08/2018 às 07h00

O fim do ciclo das convenções partidárias, que ocorre neste domingo, não indica, necessariamente, que os palanques de outubro já estejam formados. Como o prazo de inscrição das chapas se esgota apenas no dia 15, ainda há tempo para composições. E é o que está em pauta pelo país afora, com as legendas fazendo os últimos esforços para se acomodarem em alianças que lhes permitam mais tempo na televisão e, principalmente, espaço em eventuais governos a partir de 2019.

Este, aliás, é o grande momento dos partidos de pequeno e médio portes, pois são determinantes na definição desses cenários. Basta acompanhar o noticiário para se compreenderem os bastidores da política nos quais não há espaço para discussões ideológicas. O negócio é tempo para propaganda política. E aí são poucos os que resistem à tentação de ficar por conta da própria sorte.

O PSDB, que referendou a candidatura do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, atraiu o chamado Centrão, que abriga um expressivo contingente de investigados da Lava Jato. O PT fez um pacto cruzado em Minas e em Pernambuco com o PSB para isolar Ciro Gomes. Em ambos, porém, há rebeldia. O socialista Marcio Lacerda não aceita ser rifado pela direção nacional, nem a petista Marília Arraes aceita ser obrigada a ceder espaço para o governador Paulo Câmara, do PSB.

Nessas duas situações, surge outro componente: alguns partidos têm dono, e outros têm lideranças de pulso forte que não abrem mão de seus interesses, mesmo contrariando o que pensam as bases. No caso petista, a ordem para o acordo veio da cela da Polícia Federal, na qual encontra-se o ex-presidente Lula. Ao ser questionado por que apoiava o acordo em Recife, o senador Humberto Costa não teve constrangimento ao dizer que a ordem era do ex-presidente.

É pouco provável que os rebeldes tenham êxito, mas fica claro que há desafios importantes na política partidária e na formação de palanques. É do jogo, mas os danos colaterais precisam ser considerados sob o risco de, no futuro, a conta a ser paga seja alta demais.

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