DE MAU GOSTO
Com tanta coisa a ser feita, ainda há quem se dedique ao perverso hábito de passar trote. E não se trata da brincadeira com amigos, mas envolvendo serviços públicos de saúde e segurança, como a Tribuna mostrou na edição de ontem. Só a Polícia Militar recebeu 58 mil ligações com informações falsas entre janeiro e abril deste ano, o que corresponde a 22% dos contatos telefônicos recebidos pela instituição. Trata-se de algo grave, pois indica a falta de senso desses autores que, em momento algum, avaliam as consequências.
Ao passar o trote, o autor desconhece a possibilidade de estar tirando uma viatura de um caso real. Vale o mesmo raciocínio para uma ambulância. Em tempos de dificuldade, quando os usuários do sistema se queixam dos atrasos, o trote amplia o problema. Perde-se uma vida por conta dessa brincadeira.
Ainda é difícil identificar o que passa pela cabeça do autor do trote, mas há consenso sobre a sua irresponsabilidade. O tráfego de conversas, sobretudo à noite, é revelador de angústias, de solidão e de medos, mas o trote não tem esse viés. Vários serviços são próprios para estabelecer contatos, mas não é a esses que o trote se dirige. Ele quer “brincar”, mostrar domínio sobre os fatos e chamar a atenção, embora não se identifique.
A legislação estabelece penas para tais personagens, mas, por serem mínimas, a ação continua em prejuízo da sociedade, vítima final dessas inconsequências.