Ir adiante
Ao anunciarem a disposição de renunciar às investigações da Lava Jato, em virtude dos jabutis colocados no projeto de combate à corrupção, os representantes do Ministério Público estão fazendo o jogo da Câmara. Desistir do jogo no intervalo não é o caminho adequado, sobretudo quando há atrás de todo esse processo um país inteiro à espera de ações moralizadoras. O fato de deputados de todos os partidos mudarem a essência do processo não significa, necessariamente, um pacto contra o MP. Há pontos que podem ser discutidos, mas jogar a toalha impede até mesmo ações desse tipo.
Em situações de impasse, é fundamental o princípio da razoabilidade, pelo qual os dois lados discutem, negociam, transigem, sem, no entanto, perder seus princípios. Por isso, em vez de desistir, o MP tem que se articular, ainda mais quando conta com o respaldo da opinião pública. O mesmo Senado que rejeitou a urgência defendida pelo seu presidente, Renan Calheiros, não é garantia de que terá a mesma preocupação na hora da votação, podendo repetir a Câmara. Por isso, o momento é de conversar.
Num momento de economia instável, com perspectivas preocupantes até em 2017, um impasse político é o que menos se espera, pois significa nova frente de problema, capaz de consumir energias que deveriam estar voltadas para a retomada do crescimento. Aos deputados também é necessária a mesma razoabilidade, pois, quando até pessoas sérias se deixam levar por minorias que tentam defender a própria pele, há algo de errado no ar. Os autores das emendas na Câmara e os que pediram urgência no Senado são personagens que olham apenas para o próprio umbigo, sem se importarem com as consequências.