Sem euforia
Liberação do FGTS é uma medida importante, mas é preciso considerar que a economia só vai se aquecer com medidas práticas, fruto, principalmente, de reformas
Uma das estratégias do Governo – e foi assim também em outras gestões – é liberar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para aquecer o mercado. De fato, em tempos de economia crescendo lentamente, todas as iniciativas para mudar o cenário são bem aceitas, desde que não impliquem inflação. O FGTS não leva a tal situação, sobretudo por conta dos valores que não são suficientes para provocar uma onda de consumo exacerbada além da capacidade de produção da indústria.
A eficácia de tais medidas, no entanto, ainda não é um dado consumado, embora o comércio, principalmente, venha celebrando tais iniciativas, sobretudo no final do ano, ocasião em que o beneficiário pensa mais nas compras do que nos compromissos. Mas até aí há controvérsia. O número de trabalhadores fora do mercado ainda é muito alto, e, quando há a oportunidade de receber algum vencimento, ele é, necessariamente, induzido a cobrir as contas em aberto.
É fato que boa parte delas é com o próprio comércio, dando margem ao crédito positivo, mas é vital comemorar com discrição, pois o ciclo virtuoso ainda não aconteceu. As reformas implementadas e as que estão na prancheta da equipe econômica podem até mudar o patamar da economia, e é o que todos esperam, mas são ações de médio e longo prazo.
Ademais, o mundo, embora distante da crise de 2008, passa por uma grande inflexão econômica, bastando acompanhar os relatórios dos organismos de avaliação dos mercados e das fontes de financiamento, como o Fundo Monetário Internacional. Todos fazem projeções tímidas para 2020, por conta de rearranjos econômicos ora em curso. No Velho Mundo, a saída do Reino Unido da União Europeia causa incertezas, bastando ver o vai e vem do parlamento britânico que ora autoriza, ora impede o fechamento do acordo do Brexit.
Na América do Sul, a situação da vizinha Argentina não é um problema local. Trata-se do principal parceiro econômico do Brasil na região, o que leva a incertezas em torno das medidas a serem tomadas pela nova gestão. O presidente eleito, Alberto Fernández, já deu sinais de não ler a mesma cartilha do presidente Maurício Macri, mas reconheceu que campanha é uma coisa e governar é algo bem diferente. Mas terá que se esforçar, e muito, para reverter o cenário portenho.
Num mundo globalizado, o efeito borboleta tornou-se mais frequente, daí ser necessário considerar que as ações e as reações estão conectadas, não havendo medidas em estilo solo para resolver pequenos ou grandes problemas.