GUERRA URBANA


Por Tribuna

02/11/2016 às 07h00

Uma queixa recorrente das polícias, tanto militar quanto civil, é que o trabalho de repressão ao crime tem sido redobrado, isto é, elas prendem, e a Justiça solta, o que, na análise desses próprios agentes, chega a ser desanimador, pois, na maioria das vezes, conhecem os infratores pelas muitas vezes que já os tiraram de circulação. A Justiça, por sua vez, se queixa de boletins inconsistentes que levam à soltura dos presos em função de não haver dados para mantê-los no cárcere. Ademais, o sistema está saturado, com cadeias superlotadas e processos em demasia.

O grave desse enredo é que a conta cai para a própria sociedade. A morte de uma comerciante, sábado, no Bairro Manoel Honório, foi uma tragédia, mas, pela lógica, teria sido evitada se os autores estivessem cumprindo algum tipo de pena, pois todos os envolvidos já tinham passagem pela polícia, alguns, inclusive, recolhidos por mais de uma vez. No acompanhamento pelas redes sociais, foi possível detectar a indignação até de policiais, pois se sentem de mãos atadas em tais situações.

Na última sexta-feira, o presidente Michel Temer se reuniu com a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, e com o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, para dar o primeiro passo numa nova discussão sobre a violência no país. Como mostra o Relatório da Violência, a ser oficialmente divulgado este mês, os números são hiperbólicos em algumas regiões, embora, estatisticamente, os crimes consumados contra a vida tenham caído em outras.

Mas são só números enquanto nas ruas o cenário é outro. Morrem mais vítimas de homicídios do que em conflitos armados como os da Síria, também diz o relatório. Tais dados apontam para a necessidade de um debate amplo, com vários segmentos, a fim de se buscar uma saída para esse impasse que tira vidas, encurta carreiras e esfacela famílias. Entre vítimas e autores, a maioria se situa na faixa de 15 a 29 anos, mas nessa lista entram inocentes, vítimas do dano colateral dessa guerra urbana.

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