A RUA É DE TODOS
A rua não pertence ao automóvel. Este é o argumento incontestável defendido pelo Grupo Mobilicidade ao ressaltar a importância de se criarem alternativas que tornem a cidade mais sustentável e o trânsito mais humano. O argumento é lembrado para ressaltar o avanço que a ciclorrota representa para a mobilidade no município. O argumento também cabe na reportagem da Tribuna deste domingo, na qual o repórter Eduardo Valente percorreu de bicicleta a primeira ciclorrota de JF, na Avenida Rio Branco.
No entanto, ao propor esta matéria, o jornal não pode deixar sua função social de lado. É preciso lembrar que toda política pública necessita de conscientização dos cidadãos para que ela se transforme em realidade. A sinalização das ciclorrotas e a ampliação deste projeto são passos largos dados graças à mobilização de ciclistas. Isso se chama empoderamento. Ação que deve ser aplaudida e que deveria servir de exemplo para tantos outros grupos.
Mas o projeto não pode parar por aí. Conscientizar gasta tempo. Mudança de hábito não acontece da noite para o dia. Enquanto os carros tomaram as ruas, pedestres, ciclistas, skatistas e tantos outros foram ficando à mercê deles. É hora, sim, de se mudar esta realidade até mesmo para que viver nas cidades não se torne inviável. Porém, falta conscientização para que um maior número de pessoas entenda este projeto como primeira semente para o futuro. É preciso que, mais de um mês depois do início da ciclorrota, avaliações e campanhas sejam feitas e falhas sejam reconhecidas.
Não são só os ciclistas experientes que vão para a rua. Quando o repórter diz que não se sentiu seguro para circular de bicicleta na Rio Branco, isso não pode ser ignorado. Precisa-se, sim, reforçar projetos que o encorajem a usar a bicicleta. Não adianta entender a lei e saber que ela penaliza o motorista que não respeita a distância de segurança quando a vivência das ruas ainda desencoraja quem faz uso delas como minoria. Dezenas de pessoas ouvidas ainda não entenderam o que significa a ciclorrota. É preciso, então, reforçar que ali é espaço de todos, que o mais fraco deve ser respeitado. Isso já está na lei, ainda assim foi preciso desenhar no chão. Que venham mais ciclorrotas e outros caminhos compartilhados e que a cidade saiba respeitar e entender que a rua é de todos.