A vez dos ‘bombeiros’

Discurso em defesa do AI-5 em nada ajuda e ainda leva inquietação às ruas e às instâncias políticas


Por Tribuna

01/11/2019 às 06h54

Embora não haja qualquer dose de ingenuidade nos discursos do deputado Eduardo Bolsonaro, ao apregoar uma possível volta do AI-5 em caso de comoção nas ruas encabeçada pela esquerda, ele avançou além do necessário, levando o próprio presidente Jair Bolsonaro a classificar o discurso como um sonho. O presidente não entrou na dividida ao destacar a independência do parlamentar, mas não é de hoje que o deputado mais votado do país tem um discurso, mais voltado para o próprio público, capaz de causar inquietudes no país.

O Ato Institucional número 5, editado em 13 de dezembro de 1968, foi um ato extremo do ciclo militar cujas consequências entraram para a história, pois emparedou instituições, cortou direitos e garantias e se ampliou com os enfrentamentos. Ninguém gostaria de retornar a esse período. A mais longeva constituição do país é clara ao descartar qualquer tipo de ação que vá além dos limites democráticos. E a democracia tornou-se um consenso, bastando acompanhar os depoimentos de lideranças políticas de todas as tendências.

Mas, se há interesse em radicalizar, o que pode ser uma estratégia de ambos os lados, é necessário o surgimento dos “bombeiros”, que teriam um papel importante em pacificar as discussões e colocar o dissenso ideológico dentro de patamares democráticos, isto é, dando direito às partes de defender suas ideias sem partir para propostas extremas.

O mundo digital mudou comportamentos e, entre virtudes e defeitos, colocou a radicalização na sala. Os personagens falam para o próprio grupo, e as diferenças sequer são discutidas em condições de razoabilidade. E, quando se chega a tal patamar, as alternativas tornam-se mais estreitas, pois ninguém quer ouvir. Apenas falar.

Esse cenário não é exclusivo do Brasil. Pelo mundo afora, o enfrentamento ideológico tornou-se exacerbado nas redes sociais, mas com reflexos em instâncias importantes, como a política. O grave desse enredo são as consequências, que acabam atingindo os que não têm voz ativa nesse contexto em que todos têm opinião formada sobre tudo.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.