NOVOS TEMPOS
A importância da política como instrumento de mudanças é fato irrefutável, mas os políticos precisam, por sua vez, entender a nova dinâmica das ruas que vêm passando por um acelerado processo de transformação, sem que esses percebam. Por isso, há um desgaste permanente que as instâncias de poder ora enfrentam. Com o advento da internet, e já não se trata de algo recente, o diálogo tornou-se permanente e mutante, não havendo mais questões definitivas nos fóruns de enfrentamento. Ao contrário, há uma saudável síntese das teses e antíteses que ora movem o mundo. Não fossem as redes sociais, o estupro – coletivo ou não – de uma jovem do Rio de Janeiro passaria despercebido, ainda mais quando encontra uma autoridade disposta a tratar a vítima como culpada. Também por força da web, o delegado saiu do caso e deu espaço para uma colega que entendeu que, com um ou mais envolvidos, desde que não haja consentimento, a violência sexual estava configurada. Aliás, o facebook, uma das mais utilizadas ferramentas de comunicação desses novos tempos, foi o ponto de partida, ante a postagem de um dos participantes. A internet, é fato, ainda é um território pantanoso, no qual muitos navegam por razões pouco republicanas e outros o fazem apenas para desconstruir biografias. Mas é lá também que as mudanças acontecem. O ministro da Transparência do Governo Temer, Fabiano Silveira, caiu por conta da pressão advinda do público interno e do exterior. Em outros tempos, o episódio teria sido tratado como assunto interno, e pronto. Ante um cenário de grampos e delações premiadas, quem cometeu ilícitos está com um pé atrás, temendo a divulgação, mas é fundamental, mais do que isso, fazer da internet um instrumento de boas transformações. Esse, entre outros, é um dos principais desafios da política, que precisa se renovar se quiser continuar sendo o canal de demandas. O velho estilo tornou-se ultrapassado por conta da velocidade da rede mundial. Some-se a isso, também, o pouco talento dos atuais personagens. Essa combinação acaba sendo perversa não apenas para a instância política, mas também para o país, por dar margem a discursos forjados na intolerância.