Os olhos de uma liderança preta
“No Brasil, onde a população negra representa mais de 50% do total, a escassez de gestores negros é um reflexo de um histórico de desigualdade racial”
Ela acordou esta manhã e foi trabalhar, como de costume. E viu no local de trabalho, a Regina, uma mulher negra gerenciando uma equipe para treinamento; o Marcelo, do Financeiro, um homem preto presidindo uma reunião com fornecedores; o Carlos, do Marketing, apresentando uma campanha para toda a companhia; a Juliana, do Jurídico; o Rodrigo, do Departamento Pessoal; a Lívia, da T.I.; todos negros, trabalhando em sinergia.
É um cenário cotidiano e, infelizmente, no futuro ainda. Num sonho, no imaginário, numa conversa entre funcionários sobre o que eles queriam queriam ver, o que poderia existir. A presença de profissionais pretos em cargos de liderança, gestão e à frente de projetos é fundamental para a construção de uma sociedade mais equitativa e representativa.
No Brasil, onde a população negra representa mais de 50% do total, a escassez de gestores negros é um reflexo de um histórico de desigualdade racial enraizado nas estruturas sociais e econômicas do país.
Há perspectivas e soluções que, muitas vezes, são negligenciadas em contextos predominantemente brancos. A inclusão de negros em posições de liderança permite que questões específicas da comunidade negra, como desigualdade social, racismo estrutural e inclusão, sejam mais assertivamente abordadas. A pluralidade de experiências contribui para a criação de estratégias mais eficazes, inclusivas e adaptáveis.
Além de políticas formais, é crucial que as empresas e instituições promovam uma mudança cultural interna que valorize a diversidade e busque ativamente desconstruir práticas discriminatórias. Isso pode incluir treinamento contínuo sobre diversidade e inclusão, bem como a criação de espaços seguros para debates sobre racismo e igualdade racial.
A representatividade importa em todos os setores da sociedade. Quando jovens negros veem pessoas com as mesmas características, cultura e experiências ocupando posições de liderança, eles se sentem mais motivados a seguir esse caminho. Empresas e outras organizações devem assegurar que negros ocupem cargos de decisão, o que gera uma poderosa mudança cultural e social.
A presença de profissionais negros em cargos de liderança não é apenas uma questão de justiça social, mas também de eficiência e inovação. Para alcançar uma verdadeira equidade, o Brasil precisa urgentemente enfrentar as barreiras estruturais que excluem os negros do topo das organizações, criando condições mais igualitárias e promovendo ações afirmativas consistentes para garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de alcançar posições de destaque e liderança.
Quem sabe o que foi dito no início deste artigo evolua de uma narrativa fictícia para a realidade de vários postos de trabalho pelo Brasil, majoritariamente negro, afora.
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