Por vingança, adolescente mata prima de 4 anos com golpes de tesoura

Corpo da menina foi jogado em mata e encontrado pelo pai; suspeito ainda tentou atear fogo e alegou querer causar sofrimento ao tio


Por Sandra Zanella

04/08/2025 às 13h33

Um crime brutal ocorrido no último fim de semana chocou a cidade de Barbacena, situada a cerca de 100 quilômetros de Juiz de Fora. Uma criança, de apenas 4 anos, foi assassinada com golpes de tesoura, na madrugada de domingo (3), no Bairro Nova Suíça. Um primo dela, de 16, confessou o homicídio à Polícia Militar (PM). Ele alegou que havia planejado a morte da menina há cerca de três meses, como vingança contra o pai da vítima, que também é tio dele e estaria lhe causando sofrimento por meio de “apelidos pejorativos”, como “doido”. Depois de atacar a prima com várias tesouradas – desferidas contra sua cabeça, pescoço, mãos e tórax, o adolescente jogou o corpo dela em uma mata e tentou atear fogo.

A criança foi dada como desaparecida por algumas horas, até ser encontrada sem vida pelo próprio pai, 27, no começo da manhã, no final da Rua Maria Aparecida Resende. Segundo a PM, “em ato desesperado”, o pai havia retirado o corpo do local e o levado para perto da casa dele. Posteriormente, populares recolheram a vítima do colo do homem e a colocaram dentro de uma garagem, a fim de evitar a exposição do cadáver em via pública.

Muito abalado, o pai não conseguiu responder as perguntas realizadas pela PM. A perícia da Polícia Civil foi acionada para realizar os levantamentos pertinentes ao caso, e o Samu também foi mobilizado para prestar socorro aos familiares, que estavam se sentindo mal.

Da vingança à casa cheia de sangue

A mãe do adolescente suspeito, 50, relatou à PM que acordou de madrugada com a casa cheia de sangue. Desesperadamente, ela começou a gritar pelo filho, mas ele não estava no quarto. Vizinhos encontraram o adolescente na rua e o levaram para dentro da residência, “todo sujo de sangue”. Ao ser questionado pela mãe sobre o que havia acontecido, o jovem permaneceu em silêncio. Posteriormente, ele disse à irmã que havia cortado a mão.

Já na presença dos policiais, o rapaz afirmou, inicialmente, que não havia estado com a prima. O suspeito chegou a perguntar se ele era digno de perdão, pois havia matado uma pessoa. Na sequência, afirmou ter assassinado um determinado homem e jogado o corpo dele próximo à rodovia BR-040. Depois, o jovem alegou que, há algum tempo, o pai criança estava lhe causando sofrimento, com apelidos pejorativos, inclusive o chamando de “doido”. Por isso, “queria causar a ele algum tipo de sofrimento também”.

O adolescente detalhou o plano de assassinar a prima, iniciado há três meses. O planejamento teria ganhado força após ele achar uma tesoura no campo de futebol do Bairro Nova Cidade. “Ele teve várias oportunidades para executar seu plano, todavia, somente na data de ontem (3) teve coragem de fazê-lo”, informou a PM no boletim de ocorrência.

Naquela noite, o adolescente pegou as chaves da casa da prima, sem que ninguém percebesse, e fez uma cópia. Após todos estarem dormindo, ele foi até a residência da criança, que ficaria no mesmo imóvel, e “entrou sorrateiramente, sem que ninguém ouvisse”. Ele retirou a criança da cama e a levou para o quarto dele. Ainda conforme o relato do suspeito aos militares, a menina chegou a acordar e, quando ela começou a gritar, o jovem tampou a boca dela e desferiu vários golpes de tesoura. “Ele não tinha noção de quantas tesouradas acertou”, disse a PM.

Ao perceber que a criança já estava sem vida, o primo a enrolou em uma jaqueta e a levou para uma área de mata, onde tentou incendiar o corpo. Quando o fogo apagou, após queimar parte do corpo, ele deixou o local e retornou para casa. Em seguida, retirou a roupa suja de sangue, colocou as peças para lavar e foi tomar banho. Ao sair, deitou na cama e dormiu.

Da vingança à revolta

Devido à repercussão do caso na vizinhança, a PM decidiu retirar o suspeito do local, “pois as pessoas estavam bastante revoltadas com a situação e havia possibilidades de agressões contra ele”. O rapaz foi apreendido pelo ato infracional análogo a homicídio e encaminhado ao Hospital Regional de Barbacena, antes de ser conduzido à delegacia, acompanhado dos responsáveis.

O padastro dele, 53, justificou à PM acreditar que se tratava de uma tentativa de suicídio, porque o adolescente apresentava um corte no braço, próximo ao punho esquerdo. Dessa forma, o homem lavou o sangue que estava no chão e a tesoura, que teria sido usada no crime. A arma branca foi apreendida.

Transtornado, o pai da vítima foi atendido pelo Samu. Já a mãe da menina, 27, contou à PM que estava dormindo, quando ouviu gritos vindo da casa da irmã dela. Ao chegar lá, encontrou o chão todo sujo de sangue. Ela viu que o sobrinho estava bem e voltou para sua residência, quando sentiu falta da filha e passou a procurá-la. “Nem passou pela cabeça dela que a filha poderia ter sido vítima de homicídio”, destacou a polícia. O caso segue em investigação.

Feminicídio

Ainda no domingo (3), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) representou contra o adolescente pelo ato infracional análogo a feminicídio “perpetrado por motivo torpe, consistente em vingança, já que o representado desejou vingar-se do pai da vítima, seu tio, com quem já tinha desentendimentos pretéritos e, visando fazê-lo sofrer, atingiu a sua filha”, menor de 14 anos.

Para o MP, “o crime foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da ofendida, pois o acusado retirou-a da casa dos pais dessa e levou para seu quarto, onde,
valendo-se de sua força e superioridade física, desferiu os golpes”. Ainda conforme o promotor Vinícius de Souza Chaves, o crime foi praticado em situação de violência doméstica, conforme artigo 5º, incisos I e II, da Lei 11.340 (Maria da Penha).

Nesse contexto, o MP solicitou instauração do devido procedimento para apuração do fato e aplicação de medida socioeducativa mais adequada ao caso, pedindo ao Judiciário a decretação da internação provisória do adolescente, pelo prazo de 45 dias.

 

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