Por fim da violência, movimento negro cobra ações do Poder Público
Integrantes do movimento Convergência Negra denunciam extermínio de jovens negros das regiões periféricas
“A cada 23 minutos, um jovem negro é morto no Brasil. Juiz de Fora não está longe desta realidade. Mais de cem jovens periféricos assassinados este ano. Queremos denunciar. É uma questão de urgência que precisa ser solucionada pelo Poder Público”, afirmou Giane Elisa Sales de Almeida, que participou das discussões sobre o Dia da Consciência Negra, em Tribuna Livre, na Câmara Municipal, na tarde dessa segunda-feira (20). Giane integra o movimento Convergência Negra, que, desde o início de novembro, vem realizando uma série de ações de conscientização acerca das dificuldades, discriminação e situações de violência enfrentadas pelos negros em Juiz de Fora.
Representando a Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Juiz de Fora, Fernanda Moura relatou como a violência e a discriminação afetam diretamente o jovem negro residente em regiões periféricas de Juiz de Fora. “A cada fim de semana, a gente vivencia o extermínio de algum estudante nosso. É uma angústia muito grande que nós, educadores, estamos vivendo. Resolvemos nos unir a movimentos negros e sociais”, falou, destacando que ações de conscientização têm sido realizadas em escolas da rede estadual. “Não podemos conviver com isto. Nosso jovens negros têm que andar nas ruas como qualquer outro. Sem medo. É muito sério ouvir de um jovem estudante que ele não tem expectativa de vida, mas expectativa de morte”, destacou.
Giane ainda solicitou que a Câmara cobre da Prefeitura o cumprimento de artigo da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação, que define como obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena em escolas de ensino médio das redes públicas e privadas. “Trazemos esta demanda para que a Câmara exija que esta lei seja implementada de maneira séria e não de forma pontual”, reforçou.
Luta pelo feriado
A maioria dos vereadores endossou os discursos anteriores. Autor da lei que transformou 20 de novembro em feriado municipal, regra que acabou derrubada por decisão judicial a partir de pleito movido pela Fiemg, Roberto Cupolillo (Betão, PT) prometeu manter forças pela oficialização do feriado. “Juiz de Fora tem uma dívida com a população negra, pois sempre baseou sua economia na mão de obra do povo negro. Inclusive, foi terra de vários escravocratas. Mas vamos ganhar esta parada e conseguir implementar este feriado.”
Tal ensejo foi defendido por colegas de legislatura como Antônio Aguiar (PMDB). “Acredito que (a decisão) vai ser derrubada e vamos ter o feriado, que é justo, mas ainda é pouco”, considerou o peemedebista.
JF é a 3ª em desigualdade
Durante os debates, também foram destacados dados de estudo publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) – órgão vinculado à ONU -, em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Ipea, que mostrou que Juiz de Fora é a terceira cidade do Brasil em desigualdade entre brancos e negros. A pesquisa, publicada em junho deste ano, leva em conta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da população negra. O município aparece depois de Porto Alegre (RS) e Niterói (RJ).
Programação
A programação da Semana de Consciência Negra continua nesta terça-feira (21). A OAB Juiz de Fora recebe palestrantes para promover uma discussão jurídica e histórica sobre a desigualdade racial e a situação da população negra desde os tempos da escravidão. O evento acontece às 17h30, na sede da entidade, e contará com a participação da angolana Amélia Carlos Cazalma. Doutora em educação e turismo, ela relatará a experiência de ser negra em Angola, um dos principais países fornecedores de escravos para o Brasil nos séculos passados. Ontem, em virtude das chuvas, a III Caminhada da Promoção da Igualdade Racial foi cancelada.
Também nesta terça (21), na Reitoria da UFJF, às 16h, será aberta a exposição fotográfica “Mãe África”. A mostra é organizada anualmente pela Creche Comunitária Leila de Mello Fávero, do Bairro São Pedro, como forma de pôr em prática o que determina a Lei 10.639/03, que trata do ensino sobre história e cultura afro-brasileira para alunos dos anos iniciais. A visitação será aberta ao público no saguão da Reitoria.
A programação especial terá encerramento no dia 30, com uma audiência pública organizada pela Assembleia Legislativa, que debaterá a mortalidade de jovens negros e a disparidade social na cidade. O evento também acontece na OAB Juiz de Fora (Avenida dos Andradas 696, Bairro Jardim Glória). “Nestes 20 dias de ativismo, percebemos que trabalhamos no sentido de passar Juiz de Fora a limpo para traçar um diagnóstico da cidade. Isto vai ser apresentado no dia 30”, afirmou Paulo Azarias, um dos quatro destacados pelo Convergência Negra para falar aos microfones da Câmara.