Abstenção do Enem em Minas é mais alta que a média nacional
Segundo dados do Inep, 57,8% dos inscritos no estado não participaram do segundo dia de provas, contra 55,3% no país
A abstenção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que já era considerada recorde, subiu ainda mais no segundo dia de provas. Neste domingo (24), quando foram aplicadas as provas de Matemática e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias, 3.052.633 de inscritos – do total de 5.523.029 – não compareceram, elevando o total de 51,5% de abstenções, verificado no primeiro dia, para 55,3% neste domingo. Além disso, em Minas Gerais, as médias das abstenções foram mais altas que no restante do país. No primeiro dia, dos 568.560 inscritos, 300.037 faltaram (52,8% de ausência). No segundo domingo o índice foi ainda maior, com 328.474 faltantes, ou seja, 57,8% dos inscritos mineiros não prestaram o exame. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Para professores ouvidos pela Tribuna, o recorde de abstenções registrado neste ano reforça as desigualdades sociais intensificadas pela manutenção da data do exame mesmo em meio à pandemia de Covid-19.
É o que aponta o coordenador de cursos pré-Vestibular do Colégio Apogeu, Tiago Simões, que também é professor de Geografia. “Muitas pessoas não se sentiram aptas a fazer a prova, seja porque não tiveram acesso a professores ou aulas ou porque não tinham internet. Grande percentual desses estudantes é de escolas públicas”, diz. Além disso, há também o risco de contaminação pelo coronavírus, que pode ter deixado muitos alunos com medo de participar do exame. “Alguns estudantes pensaram: sei que vou mal e ainda vou me expor e pegar a doença? Fora isso, também tem um grupo significativo de pessoas que moram com familiares que estão em grupos de risco e optaram por esperar a pandemia passar, porque não era só o risco da sala de aula, mas também do trajeto do deslocamento, etc.”
O diretor do Sistema Degraus, Rodrigo Mendonça, também acredita que os candidatos que tiveram preparação em escolas que se adaptaram rapidamente às condições impostas pela pandemia, principalmente as privadas, não encontraram maiores dificuldades. “Tivemos condição de organização para que os estudos em 2020 pudessem caminhar. Desse modo, para esses alunos, o impacto foi pequeno. Nas escolas que demoraram mais e tiveram mais dificuldades com a área tecnológica, acredito que esse impacto tenha sido maior.”
Desta forma, para o professor Tiago, do Apogeu, esta foi uma edição “desigual” do Enem. “A nossa preocupação é que a educação superior no Brasil volte a ser da exclusividade da elite. E vai ser, vamos começar a perceber quando começarem a sair os resultados. Isso para mim é o mais importante quando falamos no Enem 2020, aplicado em 2021: a mais desigual de todas as últimas edições”, avalia Tiago.
Sem surpresas
Em termos de conteúdo, conforme os educadores, a prova apresentou o mesmo nível que nos anos anteriores. Para o diretor do Sistema Degraus, Rodrigo Mendonça, a preparação deve ser sempre baseada nas habilidades cobradas dos participantes, em detrimento de um ou outro conteúdo. “Alguns conteúdos que começaram a vir em Matemática não vieram dessa vez. Isso não nos surpreende, enquanto professores. Mas muita gente pode ter sido pega de surpresa. É uma prova que teve o mesmo nível de dificuldade que as outras, bem contextualizada.”
O coordenador do Colégio Apogeu, Tiago Simões, concorda e reitera que os conteúdos mantiveram a linearidade. Ele comenta que uma das questões de Biologia chamou a atenção, porque cobrava o cálculo de incidência em uma população. “Mas é algo que se o estudante tiver alguma noção de incidência e de genética, faz o processo com tranquilidade. Há bastante tempo uma questão como essa não aparecia. Também é interessante ter resgatado os impactos ambientais e o ciclo de nitrogênio, por exemplo, que apareceu dessa vez.”
Estudantes podem solicitar reaplicação
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as pessoas impedidas de realizar o exame por conta da lotação das salas ou que tenham sido prejudicadas por outras questões, como falta de luz no local de prova ou por apresentarem sintomas de Covid-19, poderão solicitar a reaplicação por meio da página do participante, no endereço. O prazo para a solicitação teve início nesta segunda-feira (25) e vai até sexta. As provas devem ser reaplicadas nos dias 23 e 24 de fevereiro. Os resultados estão previstos para o dia 12 de fevereiro, quando os estudantes saberão se seus pedidos foram deferidos.