Apesar da proibição, consumo de cigarros eletrônicos aumenta
Cerca de 6 milhões de adultos fumantes já experimentaram o produto; perspectivas sobre uso divergem
O consumo de cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como vapes, cresceu nos últimos anos, tanto em Minas Gerais como no Brasil. De acordo com estudo da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), em dados recentemente divulgados, cerca de seis milhões de adultos fumantes afirmaram já ter experimentado o produto. O número representa 25% do total dos consumidores de cigarros industrializados – acréscimo de nove pontos percentuais em relação a 2019.
Além disso, 2,2 milhões de adultos apontaram ter utilizado cigarros eletrônicos até 30 dias antes da pesquisa – aumento de 0,3%, equivalente a menos de 500 mil, em 2018, para 1,4%. Em Minas, a incidência subiu de 0,3% para 0,9% entre 2018 e 2022. A comercialização de cigarros eletrônicos é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, mas essa proibição não impede o consumo no país. A agência divulgou, no dia 31 de maio, uma nota que reitera também a proibição do uso em ambientes fechados.
Contrapontos
Enquanto cerca de 80 países, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Nova Zelândia, além de membros do Reino Unido e todos os países da União Europeia, já avançaram na regulamentação, no Brasil o assunto segue em discussão na Anvisa. Em entrevista recente, o diretor-presidente da agência reguladora, Antônio Barra Torres, comentou que a decisão final deve acontecer ainda no primeiro semestre de 2023.
De acordo com Alessandra Bastos, farmacêutica, ex-diretora da Anvisa e consultora da BAT Brasil (indústria de cigarros, antiga Souza Cruz), em 2009, quando a agência optou pela proibição, foi uma medida cautelosa porque não existiam muitas evidências científicas – cenário diferente do atual. “Já foi comprovado, em vários estudos, que a principal diferença entre os cigarros é que no eletrônico não há combustão. Consequentemente, não há queima do tabaco. Portanto, as centenas de substâncias potencialmente tóxicas, provenientes da fumaça, se transformam em menos de cinco no aerossol do vaporizador. Essa diferença discrepante não pode ser ignorada, principalmente por se tratar de um assunto de saúde pública”, explica.
Por outro lado, conforme reportagem publicada pela Agência Brasil, o cigarro eletrônico tem chamado a atenção de especialistas pelas quantidades elevadas de substâncias nocivas à saúde na fumaça. O diretor-executivo da Fundação do Câncer e cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni explica que, ao contrário do que muitos jovens acreditam, o produto concentra altos índices de nicotina, substância que pode causar dependência. A utilização desse tipo de dispositivo também eleva o risco de infarto, câncer e doenças pulmonares.
Porta de entrada
Apesar de os dispositivos serem usados no exterior como uma alternativa ao hábito de fumar cigarros convencionais, o cirurgião ressalta, também, que é mito o fato de que o cigarro eletrônico possa ajudar nesse processo. A legislação brasileira proíbe a venda, importação e propaganda do produto, que também pode causar acidentes. A Agência Brasil destacou ainda uma pesquisa do Instituto Nacional de Câncer, que mostra que o produto é porta de entrada para o tabagismo. Análise de mais de 20 pesquisas em diferentes países constata que o uso do dispositivo aumentou em quase três vezes e meia o risco de uma pessoa experimentar o cigarro convencional, e em mais de quatro a chance de passar a utilizar o produto.
Há alguns anos, a população também não tinha conhecimento suficiente sobre o cigarro eletrônico. Entretanto, com base em informações do Ipec, atualmente quase 90% das pessoas, ou seja, 144 milhões de brasileiros, sabem da existência dos dispositivos. Em 2021, esse número girava em torno de 108 milhões (68%).