Uma goleada para Geraldo Magela
Após exatos 210 dias, o Tupi voltou a jogar no Estádio Municipal pela Série C do Campeonato Brasileiro para exorcizar os fantasmas do revés para o Paysandu em outubro passado, fracasso que custou aos juiz-foranos uma vaga na Segundona. Desde antes de a bola rolar, a inspiração para a vitória era um dos mais importantes capítulos da história alvinegra. Os jogadores entraram em campo com uma faixa em a homenagem a Geraldo Magela Tavares, ex-técnico carijó, que comandou o time que ficou conhecido como o Fantasma (com “F” maiúsculo) do Mineirão após bater os três grandes de Belo Horizonte. Há duas semanas, o mestre foi ensinar futebol no céu, e, lá de cima, assistiu ao Tupi bater o Guaratinguetá com tranquilidade, por 3 a 0, em tarde inspirada do artilheiro Daniel Morais, que marcou duas vezes.
Com tamanha inspiração, o Tupi não poderia ser outro que não um fantasma para o bagunçado time visitante. Desde os minutos iniciais, o Carijó assombrou a defesa do Guaratinguetá. Antes, porém, um susto. Logo aos 3 minutos, o zagueiro Fabrício Soares deu bobeira e deixou espaços para Sócrates finalizar. Com nome de craque, o atacante adversário abriu mão do calcanhar e bateu de peito de pé, em cima do goleiro Glaysson. A resposta foi de imediato e na mesma moeda. Falha do lateral Augustinho pelo lado esquerdo da defesa paulista. A bola sobrou limpa para o atacante Daniel Morais. Ao contrário do camisa 9 do time de vermelho, Daniel mostrou que é capaz de filosofar com os pés, e deu um tapa no canto direito do goleiro Flaysmar, colocando o Tupi em vantagem.
Após o gol, a pressão carijó foi avassaladora, e o campo de jogo de Flaysmar parecia uma mansão mal-assombrada. O lado esquerdo da defesa paulista se assemelhava a um trem fantasma, com o lateral Osmar e o meia Vinícius Kiss assombrando os adversários. Aos 8, Kiss invadiu a área e chutou por duas vezes, mas Flaysmar impediu que a bola beijasse a rede. Aos 18, Kiss, de novo no ataque, trombou com a zaga na grande área, e a arbitragem apontou a cal. Pênalti para o Galo, trabalho para Daniel Morais. O artilheiro tomou muita distância e correu por mais de dez metros com a tranquilidade de quem conhece o caminho do gol. Consciente, fez a bola morrer macia no canto direito e correu para o abraço: 2 a 0.
Assustado, o Guaratinguetá estava fragilizado. O Tupi foi para cima e poderia ter construído a goleada ainda no primeiro tempo. Principal nome do jogo, Daniel Morais desperdiçou pelo menos três grandes oportunidades. Aos 23, o meia Kaio Wilker levantou na área e o artilheiro desviou de peixinho, rente à trave. Aos 31, ele invadiu a área sozinho e bateu por cima do gol. Quatro minutos depois, apareceu de novo à frente de Flaysmar, driblou o goleiro, mas perdeu o controle da bola. Daniel não foi para o vestiário sem marcar um gol de placa. Após o apito final do juiz, o atacante presenteou o garoto Victor, de 14 anos, que, acometido pela distrofia muscular progressiva de Duchenne, luta para arrecadar recursos e doações para fazer um tratamento na Tailândia, com custos estimados em R$ 80 mil. Quem quiser fazer como o artilheiro carijó e colaborar, pode se informar na página “SOS Victor Juiz de Fora MG”, criada no Facebook.
Etapa final
O terror do Guaratinguetá prosseguiu na etapa final. Aos 6, Bruno Ré engatou a quinta marcha pela esquerda e levantou na área dos visitantes. Com o goleiro vendido, Daniel Morais tentou desviar a bola, que veio muito alta, mas não conseguiu cabecear em cheio e desperdiçou mais uma boa chance. Se o lado esquerdo da defesa paulista era a mina carijó no primeiro tempo, a coisa se inverteu nos 45 minutos finais. Aos 10, Bruno Ré acelerou pela intermediária e bateu forte. Flaysmar deu rebote e, por muito pouco, recuperou-se antes que Daniel Morais empurrasse para o fundo da rede.
Um minuto depois, o goleiro do Tupi mostrou que também é um fantasma para os atacantes adversários. Sócrates, como um doutor, fez boa jogada na área alvinegra, bateu forte, mas viu o goleiro carijó assustar a bola com mão a direita, colocando para escanteio. Apesar da maior participação de Bruno Ré no segundo tempo, o lado direito alvinegro não estava de freio de mão puxado. Aos 17, Osmar desceu embalado e foi derrubado. Falta para levantar a bola na área, mas Kaio Wilker resolveu contar outra história.
Com maestria, o camisa 10 bateu direto, colocou no ângulo direito de Flaysmar, que, com o olhar assustado, ficou parado no terceiro gol carijó. Após escrever seu nome na partida, Wilker foi substituído por Gabriel Davis. Com placar construído, o técnico Leston Júnior fez mudanças no Tupi, dando chances também ao meia Marco Goiano e o atacante Ramon, que fez a sua estreia. A intensidade da partida, todavia, continuou a mesma, com o Tupi acuando o Guaratinguetá em seu campo de defesa.
A partir daí, restava ao Tupi controlar o jogo e curtir os 100% de aproveitamento na Série C. Com a vitória e a liderança do grupo B, os deuses do futebol vão ter que escutar um sorridente Geraldo Magela contar as histórias de um clube que já assustou o Mineirão e, hoje, aterrorizou o Guaratinguetá. Lá do céu, a lenda carijó aguarda, serena, para torcer por seu Tupi na partida do próximo domingo, quando os juiz-foranos enfrentam o Guarani, em Campinas.