Repórter da Tribuna aceita o desafio de saltar de paraquedas
“Quando toquei os pés no chão só tive uma certeza: já queria voltar pro céu para sentir tudo de novo”, revela
Dez mil pés de altura, 40 segundos de queda livre a 220 Km/h. Não há dúvidas: ao ler esta primeira frase, um salto de paraquedas pode parecer bem assustador. Mas, a partir do momento em que você decide fazer, e faz, percebe o quanto sua noção de medo pode mudar. Depois da adrenalina no salto, pilotar suavemente um paraquedas por cerca de 10 minutos até seus pés tocarem novamente o solo, com certeza você verá o mundo de uma forma diferente. E verá o quanto a sensação de “ter asas” e vencer a si próprio é libertador. Eu aceitei o desafio e fiz meu primeiro salto duplo em agosto deste ano com a equipe da Skydive JF.
Meu salto foi junto com o instrutor da Skydive Luiz Claudio Ribeiro, conhecido por todos como Dim. Ele contabiliza cerca de quatro mil saltos, e começou no esporte em 1996. “Desde muito novo via meu irmão saltar, e sempre me interessei. Meu primeiro salto foi dia 17 de novembro de 1996, nunca me esqueço desta data. Eu costumo dizer que depois que o bichinho da adrenalina pica, já era. Você vai uma vez, logo depois já quer fazer o curso e saltar sozinho. É uma sensação única, muito libertador”, diz.
A adrenalina já começa na hora de vestir o macacão. Antes do salto, é feita uma espécie de simulação em uma mesa, onde os instrutores exemplificam a posição correta que devemos ficar. Daí pra frente, eu só contava os segundos para entrar logo no avião. Depois de entrar no Cessna 182 Skylane, pilotado por Miguel Gustavo Saber Miana. Foram cerca de 30 minutos no ar, e, a cada minuto, você vai vendo a cidade “menor”. Foi comigo no voo um rapaz de Leopoldina, que também fez seu primeiro salto, e que nunca havia entrado em um avião antes. Ele saltou alguns minutos antes, quando a porta se abriu para ele, eu só tinha cada vez mais certeza de que seria maravilhoso e extremamente desafiador.
Captando emoções a 200 Km/h
O responsável por fazer as imagens do meu salto foi o paraquedista Bruno Malvaccini. O funcionário público fez seu primeiro salto no dia 11 de fevereiro de 2000, e hoje tem 568 saltos. Para ser cinegrafista nas alturas é preciso ter no mínimo 200 saltos. É feita uma avaliação por um instrutor, só depois os profissionais são cadastrados na Confederação Brasileira de Paraquedismo (CBPQ). “Até hoje o que mais me fascina é o desafio de saltar de uma aeronave em voo. Já a satisfação em filmar está no fato de você conseguir captar as maiores emoções que as pessoas têm quando se dispõe a fazer um salto livre”.
Sobre a segurança do câmera, Bruno explica que existem diversos protocolos de segurança que são seguidos, como por exemplo a chamada altura de comando. “Quando o instrutor do salto duplo vai comandar o paraquedas, isso se dá em torno de 5.500 pés, e o câmera se afasta de modo a maximizar sua segurança. E como sabemos a altura que estamos? Além de utilizarmos o altímetro analógico de pulso, como todos os outros paraquedistas, temos o altímetro sonoro, que vai dentro do capacete. O aparelho emite um alerta quando chegamos a essa altitude. É uma reiteração de segurança”, destaca.
Voando alto
Em nenhum momento tive receio de alguma coisa pudesse dar errado. É surpreendente a segurança que os instrutores passam. Quando a porta do avião se abre, é você que sai antes do instrutor. A pergunta que mais fiz aos meninos e também ao Dim era: o que vou sentir? “A maior curiosidade das pessoas é essa, o que sente, e também se vai conseguir respirar em queda livre”, disse o instrutor, acrescentando que só indo para saber. E é exatamente isso: a sensação de queda livre é umas das mais deliciosas e libertadoras que tive na vida: o corpo mesmo não sente a queda, apenas a sustentação do vento. Pode parecer pouco 40 segundos, mas para quem está lá em cima, é muito! Depois que o paraquedas abre, você fica plainando no ar, a sensação é realmente de voar. Quando toquei os pés no chão de novo, só tive uma certeza: já queria voltar pro céu para sentir tudo de novo.
Em Juiz de Fora, o esporte é praticado há cerca de 30 anos, porém, durante algum tempo, ficou parado. Desde 2014, o Skydive JF voltou a movimentar o esporte na cidade. Atualmente, a escola funciona em um espaço no Aeroporto da Serrinha, no Bairro Aeroporto, Cidade Alta, e oferece cursos e saltos duplos – feitos junto com um profissional. O esporte, visto por muitos ainda como loucura, é super seguro. Além de profissionais capacitados, os praticantes vão para as alturas com dois paraquedas, o principal e um reserva em caso de falha do primeiro. Ainda há um dispositivo de acionamento automático (DAA), aparelho digital que consegue abrir o paraquedas automaticamente, caso ele não seja acionado pelo paraquedista. Quase todos estão aptos a se aventurar.