O torcedor é a meta em 2016


Por GUSTAVO PENNA

03/01/2016 às 07h00- Atualizada 06/01/2016 às 08h34

Semifinal da Série C, contra o Londrina-PR, teve 3.697 pagantes (Olavo Prazeres)

Semifinal da Série C, contra o Londrina-PR, teve 3.697 pagantes (Olavo Prazeres)

Faça chuva ou faça sol, em todos os jogos do Tupi no Estádio Municipal lá está o aposentado Augusto Vale posicionado com suas bandeiras atrás do gol oposto aos vestiários. Há 22 anos passou a ser o “torcedor solitário”, se refugiando no local para fugir dos “sacos com urina jogados por outros torcedores”. Mas a condição do isolamento voluntário se aproximou de ganhar significado literal em 2015. A baixa assiduidade da torcida carijó nas arquibancadas ao longo de uma das temporadas mais vitoriosas do clube acendeu o alerta para o próximo ano, fazendo da fidelização uma obsessão da diretoria alvinegra. A experiência de quem viveu boa parte dos 71 anos de idade nas arquibancadas aponta uma causa da falta de interesse do torcedor: o valor dos ingressos. “Aumentaram o preço do ingresso, a tendência é a torcida diminuir. Acho que o ingresso tinha que ser R$ 10. Pelo futebol que está sendo praticado não vale. Tem cada pelada aí que vou te dizer. Pense bem, o cara vem lá do Retiro, são dois ônibus para ir ao estádio e dois para voltar. São R$ 10 só de passagem. Tenho, claro que tenho (medo da solidão no estádio aumentar). A tendência é o torcedor se afastar mais. Ninguém tem dinheiro para ir quatro vezes por mês ao estádio”, diz Augusto Vale.

A diretoria carijó afirma ser sensível à reclamação dos torcedores, mas se vê em uma sinuca, da qual a única saída é o sucesso do programa sócio-torcedor. “O preço do ingresso não é diferente do que outros clubes praticam”, afirma o vice-presidente do Conselho Gestor do Tupi, Cloves Santos. “O custo do futebol não é barato. São quase R$ 25 mil por jogo. O sócio-torcedor ganha ingresso pagando R$ 35 por mês. Sei que é complicado para quem tem família grande, mas o sócio-torcedor ajuda nisso. É possível fazer um planejamento para ser sócio. Agora, quem é torcedor esporádico vai reclamar esporadicamente do preço do ingresso.”

Embora ainda não tenha decolado, contando com aproximadamente 300 sócios, a expectativa da diretoria é que o programa chegue ao menos às mil adesões até o início da Série B. Um desafio para quem conquistou o acesso à Segundona e ainda assim teve média de apenas 1.886 pagantes nos 11 jogos como mandante no Brasileiro.

“O público dos jogos ‘comuns’ do Tupi não mudou muito. O que causou estranheza foi o jogo do acesso (contra o ASA-AL, com 3.514 pagantes) e o público da semifinal (contra o Londrina-PR, com 3.697 pagantes). Acredito que a explicação esteja no tropeço contra o Paysandu-PA no ano passado. Mas confio que vamos ter um público maior no Mineiro e vamos alcançar os mil sócio-torcedores que o Tupi tanto precisa. Muita gente fala que vai aos jogos contra o Vasco e Bahia (na Série B). E nos outros jogos? Quem vai apoiar?”, questiona Cloves Santos.

Quem concorda com a teoria do fantasma criado pelo Paysandu é o jornalista da ESPN Brasil Eduardo Monsanto. “Em 2015, a presença de público foi baixa pelo ranço de 2014. Aquilo abalou a fé de muita gente. Só que o Tupi de hoje é um outro Tupi. Dentro de suas limitações é competitivo. Consegue fazer com pouco dinheiro equipes que têm feito bons resultados. Não só o elenco, mas a diretoria, comissão técnica e funcionários merecem esse voto de confiança. A cidade está devendo isso ao Tupi. A onda de otimismo do acesso vai permitir que a torcida abrace mais o clube em 2016.”

Torcedores de ocasião

O otimismo com a boa campanha em 2014, com goleadas na reta final da fase de grupos da Série C, fez o torcedor “comprar a briga”, fato expresso na forte venda de ingressos nos três últimos jogos com mando de campo na primeira fase (3.667 na goleada sobre o Mogi Mirim-SP, 3.700 diante do São Caetano-SP e 3.238 contra o Duque de Caxias-RJ), além da decisão das quartas de final contra o Paysandu-PA, com 15.693 pagantes no Mário Helênio. Uma reação que corresponde à opinião de Eduardo Kaehler, membro da torcida organizada Tribo Carijó e que acredita que o público reage ao futebol praticado em campo.

“O mais importante é montar um bom time, que dê gosto de assistir, sem ser pragmático como o time de 2015. Em 2014, na reta final, a torcida apoiou. Em 2015 não. O valor do ingresso também atrapalha, mas outra coisa primordial é a divulgação. Falta marketing ao Tupi.”

Já o locutor da CBN Juiz de Fora Marcos Moreno confia que mesmo pequenas ações de marketing podem ser capazes de promover grandes mudanças. “Não é todo dia que se consegue uma vaga para a Série B. É preciso aproveitar isso e trazer o torcedor. Várias promoções podem ser feitas. Acho que ainda cabe aqui em Juiz de Fora o incentivo de prêmios para a torcida. TV, bicicleta, moto. A presença do público em 2015 foi decepcionante. O time ficou todas as 18 rodadas no G4. Só isso já deveria ser um incentivo para o torcedor comparecer. Todos nós somos culpados.”

Para aproximar o clube da população, a direção carijó confia em estratégias que deverão ser colocadas em prática em breve. “As pessoas têm que entender que precisam comprar a ideia. O Tupi faz a parte dele. Falta Juiz de Fora fazer a parte dela. Muitos são torcedores fanáticos, mas tem outros que precisamos conquistar. Vamos propor algumas ações a partir de janeiro para fidelizar o público que só vai (ao estádio) quando o resultado é bom. Precisamos cuidar desses, para depois buscar os novos. Esses pelo menos sabem onde é o estádio”, afirma Cloves Santos, que afirma estar trabalhando, entre outras estratégias, para retomar a venda de cerveja durante os jogos em 2016.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.