Crise impacta atendimento de dez mil no Saúde Servidor
Sem a contrapartida da PJF, clínicas, médicos e hospitais restringem assistência para usuários
Mais de um mês após a Tribuna mostrar as restrições no atendimento prestado aos mais de dez mil beneficiários do Saúde Servidor, há informações de repasses financeiros por parte da Prefeitura à rede credenciada, sem, no entanto, liquidar o passivo, cujo montante não foi divulgado. Com isso, os servidores municipais de Juiz de Fora e seus dependentes continuam sendo prejudicados com a contenção nos atendimentos médico-hospitalares aos segurados do plano. Entre os conveniados, a informação é de que há reuniões frequentes com a Prefeitura, com o objetivo de negociar os valores a receber. Na prática, porém, cada vez mais médicos e clínicas recusam procedimentos. A demora na autorização e o cancelamento de cirurgias eletivas também são motivos de reclamação.
Uma aposentada, 75 anos, diz que está há mais de dois meses tentando marcar uma consulta com um otorrino para o marido, sem sucesso. “A dificuldade é enorme. A gente liga para o médico e, mesmo ele estando na lista de credenciados, diz que não atende mais.” A beneficiária do Saúde Servidor afirma que chegou a pegar a relação disponibilizada pelo plano e ligar para todos os profissionais listados, mais de dez. “A maioria não atende clientes do plano. Quem aceita o convênio, marca consulta para daqui a um, dois meses.” Um problema, comenta, é o fato de a recusa vir de profissionais e clínicas que ela e o marido costumam recorrer há anos, o que dá uma sensação de desamparo. Para a aposentada, ficar sem cobertura é um transtorno adicional, embora o desconto na folha permaneça inalterado, destaca.
Logo após a primeira publicação da Tribuna sobre o assunto, leitores fizeram inúmeras queixas sobre o plano. Há relatos de cirurgia marcada que foi cancelada pela clínica, sob a alegação de falta de pagamento por parte da Prefeitura. Leitores relataram dificuldade para fazer exames mais específicos, como ressonância de crânio, além de longa espera por autorização para a realização de cirurgias, como a de catarata. Também foram apontadas negativas de atendimento em clínicas especializadas, recusa de médicos e imposição de restrições a quem ainda atende pelo Saúde Servidor.
Atraso dos honorários
Para a diretora do Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora, Rosangela Nascimento, ao que parece, os atrasos no pagamento para a rede credenciada têm afetado mais os prestadores pessoas jurídicas, até em função do maior volume de atendimento.
Segundo ela, os médicos pessoas físicas, geralmente, já recebiam com pouco mais de um mês de atraso. Agora, no entanto, o tempo de espera é maior e passa dos 45 dias. Ela, por exemplo, recebeu, na quinta-feira (17), os valores referentes a consultas realizadas em outubro.
Um problema, diz, é que os honorários estão congelados. No caso das cirurgias, há mais de cinco anos, calcula. A diretora identifica um movimento “grande” de recusa de atendimento na cidade. “É uma situação difícil, porque os profissionais têm contas a pagar.”
Restrição a urgência e emergência
A Tribuna voltou a consultar os hospitais que fazem parte da rede credenciada do Saúde Servidor. O Hospital Monte Sinai, por meio de sua assessoria, afirmou que continua com o atendimento restrito a urgência e emergência, “mas não interrompeu todo o atendimento nem as negociações, acompanhando as dificuldades do plano e visando a ajudar na retomada da assistência completa aos funcionários do Saúde Servidor, o mais breve possível”. A restrição tem sido adotada desde o dia 4 de dezembro do ano passado.
Em negociação
O Hospital Albert Sabin, por meio de sua assessoria, também confirmou que “existe um passivo financeiro do Saúde Servidor com relação ao Hospital Albert Sabin”. O posicionamento é de que o hospital está em processo de negociação com a Prefeitura, sem restringir o atendimento ao usuário.
A Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, também por meio de sua assessoria, manteve o posicionamento de que está mantendo o atendimento aos clientes do Saúde Servidor, “pois consideramos a PJF uma parceira da instituição”. A resposta é que os valores em débito estão sendo “regularmente negociados e pagos de forma escalonada”.
Sindicato denuncia descaso
O presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Juiz de Fora (Sinserpu), Amarildo Romanazzi, afirma que tem cobrado da Prefeitura providências em relação ao que chamou de “descaso” com o Saúde Servidor. “A parte do servidor é descontada na íntegra, faltando, exatamente, o aporte de responsabilidade da mantenedora.”
Na sua avaliação, o assunto precisa ser tratado em audiência pública, já que os beneficiários estão pagando por um serviço que não está sendo prestado de forma satisfatória na prática. Para Amarildo, o descaso com o plano de saúde vem de gestões passadas, “mas nada com tanta gravidade como está acontecendo agora”. Segundo ele, os beneficiários reclamam todos os dias do constrangimento sofrido ao receber a negativa de atendimento por parte da rede credenciada. Pelas contas do sindicalista, o Saúde Servidor reúne cerca de dez mil vidas hoje.
PJF busca normalizar situação
Em entrevista à Tribuna, a secretária de Administração e Recursos Humanos, Andreia Goreske, disse que o assunto tem sido discutido nas reuniões realizadas pelo conselho de gestão do plano de saúde. Segundo ela, as negociações com as clínicas têm sido “praticamente diárias”. A secretária reforçou a necessidade de diferenciar descredenciamento e suspensão temporária de atendimento. “Há clínicas que estão suspendendo o atendimento, mas estamos negociando.”
Andreia destacou a dificuldade de o orçamento, no início do ano, estar “fechado”, sem condição de fazer empenhos, fazendo com que o cenário permaneça inalterado. “É um período difícil.” Conforme a secretária, a crise fiscal enfrentada pela Prefeitura tem obrigado a Administração a priorizar o pagamento da folha, impedindo que o Município fique em dia com os fornecedores, inclusive os do plano de saúde. Ela ressaltou, porém, que a administração está empenhada em restabelecer o atendimento pleno. “Todo mundo está trabalhando para não haver desassistência.