Proposta do setor de eventos defende retomada a partir da faixa vermelha

Documento apresentado pelo Juiz de Fora Convention & Visitor Bureau estabelece protocolos de segurança e prevê flexibilização gradual em conformidade com as faixas do programa Juiz de Fora pela Vida


Por Renato Salles

28/02/2021 às 07h00

Juiz de Fora realizou, na última semana, três testes para avaliar uma proposta de protocolos para a retomada gradual do setor de eventos na cidade. As medidas de segurança foram apresentadas pelo Juiz de Fora Convention & Visitor Bureau (JFCVB) e, se a proposta for acatada em sua íntegra pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), os eventos presenciais poderiam acontecer já a partir da faixa vermelha do programa Juiz de Fora pela Vida. Nas regras municipais vigentes, tais realizações só estão previstas na faixa verde, a menos restritiva das normas em vigência no Município.

Assim, de acordo com a proposta, na faixa roxa – a mais restritiva – só poderiam ser realizadas atividades virtuais (lives). Os eventos presenciais seriam permitidos a partir da faixa vermelha e seguindo os mesmos moldes dos testes realizados esta semana. Desta forma, nesta zona de classificação, os eventos seriam restritos à participação de 50 pessoas, incluindo o staff que trabalha na atividade e com utilização de até 50% da capacidade do espaço em que a ação seria realizada.

A partir daí, a flexibilização aconteceria de forma gradual. Na faixa laranja, na qual a cidade se insere no momento, a capacidade máxima seria aumentada para até cem pessoas, e a utilização subiria para até 60% da capacidade do espaço. Na amarela, os eventos poderiam contar com até 200 participantes, além de 70% de ocupação. Por fim, na faixa verde, o número de participantes poderia chegar a 400 pessoas, e a utilização, a 80% do espaço onde a atividade aconteceria.

Em todas as zonas de classificação, deve ser determinado o controle de acesso, uso de máscara obrigatório e o respeito de distanciamento mínimo de quatro metros quadrados de raio.

Cuidados específicos

Os protocolos trazem ainda medidas específicas para cada faixa no que diz respeito a cuidados que devem ser tomados em relação aos profissionais que atuam nos eventos, aos fornecedores e ao público em geral. Pegando como exemplo a faixa laranja, profissionais que sejam do grupo de risco ou que apresentarem sintomas da Covid-19 não deverão participar do staff.

Além disso, é obrigatório o uso de máscara descartável, “de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o período de trabalho. A troca deverá ser efetuada em intervalos de três horas, quando estiver úmida, ou em menor período, quando necessário”, resumem os protocolos para os profissionais de eventos.

As regras também recomendam o distanciamento de dois metros entre os trabalhadores. “Deverão ser instalados pontos de higienização com álcool em gel (um ponto para cada 15 pessoas) e pias nas entradas e nos locais de montagem. Em montagens em locais sem água corrente para pias, recomenda-se um ponto de álcool em gel para cada dez pessoas. Deverão ser disponibilizados pontos de álcool em gel nas entradas de todos os espaços e salas”, diz o protocolo, entre outros detalhamentos.

Com relação ao público, o documento reforça o uso obrigatório da máscara e determina que seja feita a aferição de temperatura e o controle do público em tempo real, além de cadastro de todos os participantes do evento. “A lotação de pessoas é limitada à capacidade de acordo com cada faixa. Em auditórios a serem montados (cadeiras móveis), a quantidade de cadeiras respeitará a capacidade do local de acordo com a capacidade determinada pelo Corpo de Bombeiros ou o especificado no projeto de prevenção e combate a incêndio, respeitando o distanciamento de quatro metros entre as pessoas”, diz o documento.

setor de eventos
Na última segunda, protocolos sugeridos foram apresentados em evento técnico-corporativo, -contemplando uso de máscaras e distanciamento entre participantes (Foto: Fernando Priamo)

Organizadores avaliam testes como positivos

Ao longo desta semana, foram realizados três eventos-testes na cidade para analisar em prática os protocolos sugeridos pelo Juiz de Fora Convention & Visitor Bureau (JFCVB). Na segunda-feira, foi realizado um evento técnico-corporativo exatamente para a apresentação dos protocolos ao Poder Público, à imprensa e aos produtores da cidade. Entre terça e quinta, aconteceu um showroom de calçados, voltado para lojistas. Por fim, neste sábado, foi realizado um evento social, direcionado a cerimonialistas.

Presidente do JFCVB, Thaís de Oliveira Lima conversou com a Tribuna após a realização dos dois primeiros eventos, que classificou como positivos. Ela reforça que os protocolos apresentados demonstram ser possível retomar a atividade do setor de forma gradual com toda segurança. “Há vários tipos de eventos. O que fizemos na segunda-feira, por exemplo, é um evento técnico-corporativo em que é muito fácil ter todo o controle do distanciamento, do uso do álcool em gel e também da sensibilização dos presentes. É uma tipologia de eventos que já devia ter retornado há algum tempo.”

Thaís lembrou que o evento-teste de segunda seguiu as regras da primeira etapa dos protocolos apresentados pelo JFCVB e reuniu 50 pessoas, incluindo o staff da organização, nas duas sessões que foram realizadas. “Também tivemos um segundo evento que foi a feira de calçados. É um evento que pode reunir mais pessoas, mesmo que se limite a um máximo de 50 pessoas em um mesmo momento”, lembrou.

Para justificar a necessidade da retomada, ela destacou que o setor já está parado há quase um ano, o que resulta em desemprego direto e indireto e na asfixia financeira de toda cadeia de produção. “Queremos mostrar que há solução. Estamos muito confiantes com a possibilidade de uma retomada, o que pode depender dos indicadores. Mas temos que lembrar que nenhum setor consegue ficar parado por um ano. Não estamos pedindo uma retomada irresponsável, mas algo gradual.”

50 mil pares de calçados negociados em três dias

Responsável pela Done Produtora, que organizou o Showroom de Calçados e Acessórios da Zona da Mata, Toninho Simão também fez uma avaliação positiva do evento que teve duração de três dias. Ao todo, 270 pessoas de 120 empresas de cerca de 30 cidades visitaram a feira, e mais de 50 mil pares de calçados foram negociados por 37 expositores para revenda no comércio da região. “Toda coleção estará nas vitrines a partir do final de março. Tivemos uma participação até acima do esperado pelo momento”, avaliou.

Voltado especificamente para lojistas, o evento seguiu os protocolos apresentados pelo JFCVB, focando, inclusive, no controle do acesso dos visitantes. Contudo, a exposição foi dividida em três alas. Em cada uma delas, o acesso era limitado a um número máximo de 50 pessoas ao mesmo tempo.

Toninho também defendeu a retomada das atividades na cidade, citando como exemplo a organização pela Done de atividades em outras cidades a partir de setembro do ano passado. Assim, ele se mostrou otimista com a avaliação dos testes. “Muita gente está parada e depende da retomada dos eventos para voltar a trabalhar. Penso que alguns tipos de eventos já podem ser retomados, enquanto outros deverão esperar um pouco mais.”

Lojista da Sopé Calçados, de Visconde do Rio Branco, Eva Eni considerou que os protocolos garantiram a sensação de segurança no evento. “Para nós, lojistas, o showroom é uma grande economia de tempo. Fazemos em três dias o que leva dois ou três meses para resolver.” Sobre as expectativas de vendas, ela avaliou que todos amargaram perdas nos últimos meses e espera uma melhora do cenário. “O comércio está aquecendo gradativamente. Estamos apostando nossas fichas na venda da coleção inverno. Assim, esperamos que o comércio permaneça aberto. Mas o momento é outro. Minhas compras diminuíram em cerca de 50%.”

evento teste
Eva Eni e luiz henrique guimarães vieram de Visconde do Rio Branco e do interior de São Paulo para participar do Showroom de Calçados e Acessórios da Zona da Mata (Foto: Fernando Priamo)

Para o expositor Luiz Henrique Guimarães, da fábrica de calçados Mariota, de Jaú, interior de São Paulo, também avaliou que o showroom traz essa facilidade de atender um número maior de clientes. É um facilitador para as vendas. Mas algumas fábricas vêm de uma queda expressiva de até 70%. Por isso, acreditamos muito na retomada dessas feiras e de como elas vão impactar na retomada de nossos negócios.” Sobre os protocolos, ele afirmou que o evento seguiu todas as recomendações, o que é necessário no momento. “Se não tivermos consciência individual, acabamos prejudicando uns aos outros.”

Cervejarias locais negociam ocupação de praças com a PJF

No decreto da PJF que permitiu a realização dos eventos-testes ao longo da última semana, havia ainda a previsão da realização de uma atividade por parte de cervejarias locais da cidade na sexta-feira (26). Contudo, a iniciativa acabou não se concretizando. À Tribuna, o presidente da União das Cervejarias da Zona da Mata (Unicerva), Alexandre Vaz, explicou que, mais do que um evento, o pleito do setor é pelo desenvolvimento de um projeto que autoriza o uso de dez praças públicas no município pelas cervejarias.

Neste sentido, a Unicerva considera que a proposta é viável e necessária para o reaquecimento do setor, que acumulou perdas desde o início da pandemia. A proposta é de que as cervejarias possam utilizar as praças para estabelecerem pontos de vendas que as aproximem do consumidor final. Alexandre Vaz ressalta que, além de ser realizado em espaço aberto, o projeto não resultará em aglomerações, uma vez que a proposta não prevê o consumo dos produtos nos espaços públicos.

“Vamos fazer a entrega no local, comercializando garrafas, latas e growlers para os clientes levarem para suas casas. Queremos abraçar a cidade e chegar mais perto de nossos clientes. Por mais que nos esforcemos para ser acessíveis, por não estarmos nas grandes redes de supermercados, não conseguimos chegar a todos”, afirmou o presidente da Unicerva. Para tentar viabilizar o projeto, a entidade busca avançar nas conversas e negociações com a Prefeitura, uma vez que, mais do que a autorização do Município, algumas situações técnicas, legais e burocráticas precisam ser superadas.

PJF deve emitir posicionamento sobre testes no dia 11 de março

Após a realização dos três eventos testes, todos acompanhados, fiscalizados e monitorados por equipes da Prefeitura, a previsão é de que a PJF emita um posicionamento e uma indicação para o setor no próximo dia 11.

Na última segunda-feira (22), o secretário municipal de turismo, Marcelo do Carmo, pontuou que a realização dos testes não é uma garantia de que a autorização para a retomada será dada nos mesmos moldes pleiteados com base nos protocolos do JFCVB e não descartou outros caminhos como incentivos fiscais para o setor e a capacitação de profissionais da área.

Por meio de nota encaminhada à reportagem na sexta-feira, a Secretaria de Turismo (Setur) da PJF afirmou que “esteve presente em todos os eventos-teste para acompanhamento da aplicação dos protocolos e condições de realização firmados com os produtores”. “A partir da próxima semana, como também acordado, os promotores dos eventos deverão encaminhar à Prefeitura relatórios com informações, fotos e sugestões. A partir das análises dos documentos, o Município avaliará a criação de uma política de incentivo voltada ao setor de Turismo, considerando as condições previstas no programa municipal de enfrentamento à Covid-19, ‘Juiz de Fora pela Vida'”, diz a Setur.

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