Após quatro meses, Juiz de Fora volta a abrir postos de trabalho

Apesar disso, entre janeiro e julho, a cidade perdeu 6.482 empregos com carteira assinada


Por Carolina Leonel

25/08/2020 às 06h59- Atualizada 25/08/2020 às 09h21

Juiz de Fora abriu 77 empregos formais em julho, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado pelo Ministério da Economia nesta sexta-feira (21). O número, resultado das 2.881 admissões ante as 2.804 demissões feitas no período, é o primeiro saldo positivo desde março, quando a pandemia avançou na cidade, e o Município decretou medidas restritivas em relação ao funcionamento de setores econômicos. Embora o balanço do último mês seja positivo, o município amarga uma perda de 6.482 vagas entre janeiro e julho, quando houve 22.897 admissões contra 29.379 demissões.

Os segmentos econômicos que impactaram o resultado de julho na cidade foram construção civil e comércio que, no balanço do mês, criaram 66 e 43 postos formais, respectivamente. O setor industrial também apresentou saldo de três oportunidades ante os 34 desligamentos em serviços e um na agropecuária. No ano passado, em julho, 79 postos formais de trabalho foram criados em Juiz de Fora.

Professor associado da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ricardo da Silva Freguglia, analisa que esse resultado era esperado e pode estar associado a dois fatores: “o agravamento da restrição orçamentária das famílias e a recuperação de alguma atratividade do mercado, considerando inclusive a retomada gradual das atividades econômicas”. Ele cita que esse resultado se assemelha ao resultado verificado no plano nacional, mas destaca que “o número positivo de contratações de 2020 em Juiz de Fora ainda é inferior ao número verificado no ano passado. Isso demonstra uma reação muito modesta quando comparada com os número para o Brasil como um todo.”

Freguglia pondera que, embora a cidade tenha voltado a abrir postos formais, “a retomada da criação de empregos ainda terá um longo caminho pela frente”. “As medidas de controle da pandemia ainda se fazem necessárias na cidade e uma reabertura forçada das atividades econômicas, sem respaldo nos indicadores epidemiológicos, gera incerteza nos agentes econômicos. O mercado de trabalho contribui para a retomada da economia por meio da massa salarial, que dita o consumo das famílias. Essa massa, todavia, está comprometida pela redução das horas trabalhadas. Assim, o retorno à normalidade das contratações na cidade ainda deve ser lento.”

Retomada do comércio ainda é “pouco significativa”

O sutil aumento na empregabilidade verificado no setor de comércio é justificado, avalia Emerson Beloti, presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), por duas frentes: farmácias e drogarias e os setores alimentícios (supermercados, mercados, açougues). “Esses setores não pararam ao longo desses meses de isolamento. No setor de gêneros alimentícios, por exemplo, existe uma grande rotatividade”, analisa. Para Beloti, ainda é cedo para se falar em “retomada”, uma vez que grande parte do comércio pôde retomar as atividades somente no início deste mês, quando o município aderiu à onda amarela do programa estadual Minas Consciente. “Eu não tenho dúvidas de que esse Caged está ligado ao setores que não pararam nos meses anteriores, que continuaram contratando e demitindo. Como a reabertura ainda está no início, não houve condições de o empresário se assentar a ponto de definir que vai contratar. Acredito que em outubro conseguiremos analisar melhor a situação neste setor”.

Por outro lado, o presidente do Sindicomércio-JF pontua que há uma “demanda reprimida” de consumidores, que trará “natural movimento” ao setor comercial, o que também pode influenciar nos próximos meses. “Essa demanda pode impulsionar o consumo e movimentar o segmento, contribuindo para a retomada, ou a demanda, assim que for cumprida, pode se estabilizar, e o comércio poderá parar de novo. Ainda é incerto e precisamos de mais tempo para avaliar o impacto dessa reabertura”.

Na avaliação de Beloti, o desempenho do setor de serviços – o Sindicomércio representa parte do setor – “talvez mostre uma melhor realidade” da empregabilidade em Juiz de Fora, já que este segmento esteve praticamente parado ao longo dos últimos cinco meses. De acordo com dados do Caged, neste ano, o saldo de serviços já é de 2.805 demissões.

O professor Ricardo da Silva Freguglia também pontua que a retomada de contratações no comércio “ainda é pouco significativa, tendo em vista o acumulado nos meses de janeiro a julho. Destaca-se também a construção civil, que está com uma recuperação mais proeminente. Nos serviços, essa retomada ainda não se verifica”.

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