Ceia Natalina: preço de produto sazonal sobe 83% em JF
Levantamento realizado pela Sedeta mostra que frutas, como uva e nectarina, e carnes, como peito de peru e lombinho canadense, foram os produtos com maior variação nas últimas semanas
Apesar de o custo médio da cesta natalina ter se mantido praticamente inalterado este ano, com queda de 0,50% considerando a comparação dos preços médios verificados no primeiro e no último Guia do Consumidor de Natal 2019, o valor do produto sazonal chegou a subir 83% em Juiz de Fora, como é o caso da uva rosada, cujo quilo da marca mais barata saltou de R$ 7,44 para R$ 13,63 no período avaliado. Os dados foram apurados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta), da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
As pesquisas realizadas nos dias 28 de novembro e na última quinta-feira (19) contam com 44 produtos em comum. Destes, 13 apresentaram acréscimo nos preços, enquanto 14 permaneceram com os mesmos valores e 17 contaram com queda. Três mercados participaram do levantamento da Sedeta, e a maioria dos produtos analisados foi de marca mais barata. Frutas, carnes e vinhos estão entre os itens que mais sofreram aumento. Especialista ouvida pela Tribuna aponta necessidade de disciplina no momento de ir às compras para a ceia de Natal, para um consumo moderado e sem desperdícios.
Entre as frutas que tiveram acréscimo em seus valores nas últimas semanas estão a uva rosada (83%), uva itália (72%), uva rubi (68%) e nectarina (48%). Das carnes, destacam-se o peito de peru sem osso (35%) e o lombinho canadense (20%). Na contramão, a ameixa preta seca com caroço foi o produto com maior queda no valor (-37%), seguida por melão (-34%), ameixa argentina (-31%), tender sem osso (-17%) e frutas cristalizadas (-17%). Alguns produtos enlatados, bebidas e outros itens, como azeite, damasco, panetone e passas sem caroço (escura) não sofreram alterações em seus preços nas últimas semanas. A pesquisa completa pode ser conferida no site da Sedeta (www.pjf.mg.gov.br/secretarias/sedeta).
‘Disciplina na hora de ir às compras’
Este ano, os preços dos produtos nacionais, bem como dos internacionais, foram pressionados pela alta nos valores da carne bovina e pela escalada do dólar. Entretanto, as festas de final de ano, por si só, interferem no custo dos produtos. Desta forma, é importante que os consumidores tenham “disciplina na hora de ir às compras”, de acordo com a professora de Finanças da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernanda Finotti. “A renda vem achatada há um tempo, algumas famílias perderam renda por causa do desemprego, e usar o décimo terceiro não é uma boa solução, porque esse é um dinheiro extra que vem, justamente, para despesas adicionais de fim de ano – matrículas, material escolar e impostos – então, esse dinheiro já é comprometido”, explica. “Temos que aprender a encarar dezembro como qualquer outro mês do ano. Não é um mês para se perder a disciplina e sair gastando. Aquela lista de gastos mensais vai ser aumentada por causa de uma ceia e dos presentes que você não pode deixar de dar, mas essas compras têm que estar em conformidade com a realidade de cada um.”
Para lidar com os gastos da ceia de Natal, a especialista aponta a necessidade de substituições, além de consumo moderado, a fim de evitar desperdício. “A inflação não subir é um sinal claro de que as pessoas não estão conseguindo comprar, porque, se estivessem, ela estaria subindo mais”, aponta Fernanda. “O brasileiro tem mania de desperdiçar. Já é uma época que tem tantas festas, e as pessoas consomem tanto, não precisa ter três sobremesas, pode ter uma; não precisa ter três tipos de carne, pode ter um. Esse comedimento para fazer uma ceia do tamanho da sua possibilidade, sem excessos.”

Dias que antecedem Natal devem ser mais movimentados
O panetone, por exemplo, um dos produtos mais tradicionais do Natal, pode ser encontrado entre R$ 5 e R$ 30 nos estabelecimentos da cidade. “É claro que você não precisa cair do R$ 30 para o de R$ 5, que é a fabricação do supermercado, mas você tem como alternativas os de R$ 12 ou de R$ 14, então é esse tipo de substituição”, diz a especialista. Na hora de fazer as compras, o que vale é a criatividade. “Você vai comprar uma picanha, e o preço está alto, então troque por uma costela ao bafo. Vai demorar mais para fazer, mas é bem mais barata”, brinca Fernanda.
Importados
Para economizar nas compras dos produtos importados, a professora de Finanças aponta duas possibilidades: mercadorias que já se encontravam no estoque do estabelecimento e substituição por itens nacionais ou mais em conta. “O que podemos fazer é procurar aqueles itens que ainda não subiram tanto, porque já estavam estocados. Imagina que o comerciante comprou esses itens antes do repique, aí não fez a transferência da alta [do dólar] para eles”, exemplifica. “Em geral, os nacionais e aqueles que não são considerados de primeira linha estão mais baixos, não é a marca líder do mercado ou que tradicionalmente você consome, mas não tem problema porque a qualidade é muito similar.”
Este domingo (22), juntamente com a segunda (23) e terça-feira (24), são os dias em que é esperado maior movimento para as compras de alimentos para o Natal, de acordo com o proprietário do Box do Feijão no Mercado Municipal, Robério Dias Júnior. Produtos como nozes, castanhas e bacalhau já começaram a ser vendidos durante esta semana. Entretanto, devido a alta no dólar, tais itens tiveram aumento nos preços. “Cerca de 50% dos produtos de Natal são importados. O preço teve uma variação muito grande, o caso das nozes, da castanha portuguesa e do bacalhau foi bem expressivo. A carne bovina subiu, então acho que não vai ter para onde fugir muito. O negócio é optar pela variedade, não a quantidade. Levar de tudo um pouquinho, fazer a ceia gostosa e aproveitar a união em família”, diz Robério.
A dona de casa Tânia Ceruti, normalmente, não faz ceia na véspera de Natal, optando por realizar um ‘brunch’ com a família no dia 25. Entre os pratos, bacalhau, pernil e quiches são as principais escolhas para a data. Este ano, Tânia observou a elevação no preço dos alimentos natalinos. “Aumentou. Estamos controlando um pouquinho, o bacalhau mistura no arroz, e vamos levando assim para ficar mais fácil.”
Proprietário do Box São Francisco no Mercado Municipal e há 35 anos no ramo, Carlyle Lopes Barros demonstra preocupação quanto às vendas este ano por conta do preço dos produtos. “Não é que estejam caros, mas o povo está um pouco sem dinheiro, essa é a realidade. Eu acredito que a ceia desse ano vai ser uns 30% a menos em comparação com os outros anos.”
Apesar do aumento nos preços, há quem opte por realizar as compras no município mesmo morando em outro, como no caso da jornalista Cássia Ferraz, do Rio de Janeiro. De passagem pela cidade, Cássia aproveitou para adquirir alguns itens para a ceia no Mercado Municipal. “Os preços são melhores do que os praticados no Rio”, conta. “Eu gostei da castanha, que fizeram um preço bom, e do bacalhau desfiado. Quando pagamos em dinheiro, fica mais em conta também.”
Setor supermercadista espera fechar ano com alta de 4%
De janeiro a outubro de 2019, o setor supermercadista de Minas Gerais acumulou crescimento de 3,73% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o vice-presidente regional da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Álvaro Lage. Segundo ele, o mês de dezembro é o melhor para o segmento em termos de venda. “Para ter uma ideia, dezembro corresponde de 20% a 25% de vendas a mais comparadas a novembro. Por ser um período sazonal, a Amis tem a expectativa de elevar o crescimento anual de 3,73% para 4%. Ou seja, o ano de 2019 pode ser melhor que 2018 se alcançarmos os 4% já deflacionados.”
O crescimento de vendas de produtos sazonais é um dos principais fatores que contribuem para o setor atingir a meta de crescimento. Para atender a demanda e promover o melhor preço aos consumidores, os estabelecimentos procuram ampliar a oferta dos produtos, em quantidade e em marcas, conforme Lage. “Para os produtos que compõem as refeições de final de ano e vendem mais, como azeitona, batata palha, maionese e castanha, é feita compra em volume alto, exatamente para conseguir preços melhores. A intenção é que esses produtos estejam um pouco mais baratos do que o preço já negociado ao longo do ano.” Outros itens típicos das ceias natalinas, como panetones, bolacha champagne e aves, também têm seus valores negociados. “O interessante é que o mercado oferece opções para todo tipo de público. Você tem várias marcas, facilitando para que cada tipo de cliente, dentro do seu poder aquisitivo, consiga montar sua ceia.”
Antecipação
Para compor os pratos principais, é comum que aves especiais, como chester e peru, e suínos, como pernil e lombo, estejam entre as principais escolhas do consumidor. Diferente dos anos anteriores, estes itens foram colocados em oferta antecipadamente, segundo o gerente de Marketing do Grupo Bahamas, Nelson Júnior. “O preço de arrancada dos produtos em outros anos ficou muito alto. Em cima do Natal ou logo após, a indústria fazia uma rebaixa de preço grande, então isso dava uma diferença enorme do preço de largada da campanha até o final. Agora, eles [indústria] entenderam que era melhor começar o processo com o preço mais justo e não precisar, no final da campanha, fazer essas rebaixas, quando o consumidor já não tem mais tanto interesse por aquele produto. É melhor vendermos para o consumidor no período que ele quer comprar e satisfazê-lo por preço mais justo.”
Historicamente, a data de ‘pico’ de compras é dia 23, entretanto, neste ano, o movimento nos estabelecimentos deve se diluir entre os últimos dias que antecedem a celebração natalina, segundo o gerente. “Estamos com abastecimento preparado para grande movimento sexta, sábado, domingo, segunda e terça. Isso obrigou nosso centro de distribuição a fazer uma estratégia especial de logística para esses dias”, explica. Neste domingo (22), as lojas do Grupo Bahamas funcionam até 18h, exceto as que já possuem horário especial, como São Vicente (até 23h) e Manoel Honório (até 21h). Na segunda-feira (23), o horário de funcionamento ocorre normalmente, enquanto na terça, as unidades devem ficar abertas até 21h. Na quarta-feira (25), as lojas ficarão fechadas.