Baixa no gás de cozinha não chega a juiz-forano

Desde o início do mês, os preços do gás de uso residencial e de uso industrial foram revistos para baixo, mas impacto não chegou às revendas


Por Leticya Bernadete

22/08/2019 às 07h00

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Revendedoras da cidade alegam que engarrafadoras ainda não repassaram o corte, por isso, barateamento não chegou para consumidor final (Foto: Fernando Priamo)

Apesar de a Petrobras ter anunciado revisão da política de preços do Gás Liquefeito do Petróleo (GLP) no início de agosto, as mudanças ainda não foram sentidas em Juiz de Fora. Desde o dia 5, os preços do gás de uso residencial, comercializado em botijões de até 13 quilos, e do gás de uso industrial foram revistos para baixo. “Esses valores representam uma redução média de 13,4% no preço do GLP industrial e de 8,2% no preço dos envasados até 13 quilos”, informou a estatal. Ainda segundo a Petrobras, com as alterações, “os reajustes passam a ser realizados sem periodicidade definida, de acordo com as condições de mercado e da análise dos ambientes interno e externo”.

Os ajustes, entretanto, ainda não estão sendo aplicados nas revendas locais. Como explicou Eurípedes Eugênio, proprietário da Quintiliano Comércio de Gás, na Zona Leste, a Petrobras vende o GLP a granel para as engarrafadoras, que arcam com os custos de envasilhamento e operação, além de impostos. “A Petrobras estava com uma política de aumento diário no combustível e mensal no gás. As engarrafadoras absorveram vários aumentos, então, nesse caso, elas não mexeram ainda”, diz.

A falta de repasse do desconto pelas engarrafadoras também foi apontada por Katiele Mendes, proprietária da distribuidora da Supergasbrás no Bairro Santa Cruz, Zona Norte. Segundo ela, os próprios consumidores têm cobrado a redução no preço, entretanto, ainda é necessário um posicionamento das companhias. “As engarrafadoras estão alegando que vão usar (o ajuste) para recuperar a margem e para resolver problemas internos. Por enquanto, nós não temos nenhuma resposta concreta se a queda vai ser repassada para os revendedores. Repassando para nós, consequentemente, vamos passar para o consumidor final, mas, a princípio, não tem nada resolvido.”

Mercado livre

Ao ser questionado sobre possíveis motivos pelos quais as quedas ainda não chegaram aos revendedores, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP (Sindigás) explicou, por meio de sua assessoria, que os preços do GLP “são livres em todos os elos da cadeia”. Conforme a categoria, por não haver tabelamento, os preços variam de maneira não uniforme. “As distribuidoras associadas não reportam ao sindicato qualquer aumento ou baixa de preço. Como o mercado tem autonomia para fixar seus preços, cabe ao consumidor pesquisar aquele revendedor que tem condições comerciais mais vantajosas.”

Falta de repasse é apontada em pesquisa

O levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), realizado em 6 de agosto, um dia após o anúncio do movimento de queda pela Petrobras, também demonstrou que as mudanças não causaram reflexos em Juiz de Fora. Na pesquisa, a média do preço do gás de cozinha é de R$ 67,86, sendo que o consumidor pode encontrar o produto de R$ 60 a R$ 80 no comércio local. Em julho, o valor médio no município foi de R$ 67,81, e os valores mínimo e máximo permaneciam inalterados.

Em comparação com agosto de 2018, o preço do gás de cozinha, entretanto, sofreu recuo. Naquela época, o botijão de 13 quilos custava, em média, R$ 73,33, sendo que o consumidor juiz-forano poderia adquiri-lo no mercado local por valores entre R$ 65 e R$ 79. A redução foi de 7,46%.
A Tribuna realizou levantamento sobre a evolução média dos preços do GLP em Juiz de Fora. Os dados indicam que, ao longo do ano, o valor mais alto do produto foi registrado em agosto de 2018. Já abril foi o mês em que o consumidor encontrou o botijão pelo menor preço, em uma média de R$ 67,38. Na época, os valores variavam entre R$ 55 e R$ 80.

Preço do botijão pesa no bolso do consumidor

Apesar da queda verificada ante igual mês de 2018, os preços do botijão continuam pesando no bolso dos consumidores. Para a aposentada Madalena Conceição de Oliveira, por ser indispensável, o produto deveria ser mais em conta. Ela observa, ainda, uma piora na qualidade. “Quando ligamos o fogão, o gás suja a panela. Isso é impureza. Além de estarmos pagando caro, estamos pagando por um produto que não tem qualidade.” A aposentada acredita que a redução não irá chegar aos consumidores. “Eu acredito que não vai diminuir, porque o pessoal que repassa não vai querer cortar os preços. Se abaixar, vai ser algo muito simbólico.”

Mesmo com movimentos nas refinarias, o administrador Clodoveu Riolino também não percebe mudanças como consumidor. “A minha opinião é que essa redução nas refinarias não está chegando nos postos de venda. As empresas de distribuição em Juiz de Fora não diminuem esse preço, mas era para diminuir.” Além disso, segundo Clodoveu, os valores pagos para adquirir o produto poderiam ser mais baixos no município. “É uma cidade em que a renda per capita não é tão alta, então poderia ser um preço mais acessível. Aqui, o salário é muito baixo, então deveria favorecer a população.”

Para Asmirg, item virou ‘produto de luxo’

Desde que a Petrobras implantou a política de preços do GLP, a estatal promoveu outros descontos, entretanto, os mesmos não chegaram ao setor de revenda e, consequentemente, ao bolso do consumidor, de acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP (Asmirg-BR), Alexandre Borjaili. “O gás virou produto de luxo e não de utilidade pública. O Governo pode até reduzir, mas não há garantia de chegar ao consumidor. O reajuste fica incorporado na planilha de custos das distribuidoras. Nesse sistema, hoje, o Brasil é refém.”

Em junho deste ano, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou a Resolução 16/2019, que estabelece novas diretrizes voltadas à promoção da livre concorrência no mercado de gás natural. A resolução irá basear o programa Novo Mercado de Gás, do Governo federal, lançado em 23 de julho, com assinatura do decreto que cria o Comitê de Monitoramento da Abertura do Mercado de Gás Natural, de acordo com informações do Ministério de Minas e Energia. O comitê será responsável por “coordenar as ações e atividades dos diversos agentes de estado que vão atuar para a efetiva quebra do monopólio do petróleo e do gás natural no país”.

Como parte da política de abertura do mercado de gás no país, uma das medidas estudadas é a liberação da venda fracionada do gás de cozinha, de acordo com o diretor-geral da ANP, Décio Oddone. Segundo o presidente da Asmirg, Alexandre Borjaili, a medida irá permitir que cada consumidor adquira o produto de acordo com sua condição. “Isso vai abrir muito o mercado, aliado à possibilidade de podermos comprar direto do produtor, seja Petrobras ou importador. A Bolívia, por exemplo, ofereceu a venda de gás no Mato Grosso a R$ 12.”

Segundo Borjaili, a venda fracionada seria consequência de uma outra medida em estudo pelo CNPE, que permitiria o enchimento do mesmo botijão por diferentes marcas. “O botijão será tratado como do consumidor. As companhias usam propaganda no botijão para fazer com que o gás seja delas. A medida irá autorizar que qualquer companhia envase qualquer botijão, permitindo a entrada de novos agentes. Com isso, o mercado fica mais competitivo, e o preço vai cair.”

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