Conflito entre Israel e Irã pode elevar o preço do petróleo e impactar a economia nacional
Possibilidade de aumento de preço e queda da oferta da commodity causa incertezas no cenário internacional e nacional

Dez dias após o primeiro ataque de Israel ao Irã, ocorrido em 12 de junho, os impactos econômicos do conflito entre os dois países já começam a ser observados, desenhando um cenário de incertezas que atinge, também, o Brasil. A possibilidade de alta de preços ou queda da oferta do petróleo está entre as principais preocupações.
O professor de macroeconomia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de São Paulo (Ibmec-SP), Ricardo Hammoud, explica que o Irã é um dos grandes fornecedores de petróleo e do gás natural. Como o país comanda o Estreito de Ormuz, um canal importante para as exportações da commodity, que pode ser fechado a qualquer momento, há possibilidades de cortes no suprimento, diminuição da oferta e aumento dos preços. “Sempre que há um conflito no Oriente Médio, a tendência é que o preço do petróleo suba.”
Para o Brasil, a possibilidade de elevação dos preços do petróleo no cenário internacional pode trazer diferentes impactos, conforme a duração do conflito entre Israel e Irã, como explica o especialista. “O Brasil é um país exportador de commodities. Então, no curto prazo, quando o petróleo e outras commodities sobem, a Bolsa de Valores brasileira é favorecida.” No entanto, se o conflito se estender, a economia nacional pode ser prejudicada. “Pode haver um impacto negativo na inflação. Se esse preço se mantiver alto e for repassado ao consumidor, pode virar um aumento de incertezas, com fuga de investimentos. Principalmente, por causa da nossa questão fiscal ainda não resolvida. O Brasil continua gastando mais do que arrecada nos últimos tempos”, avalia Hammoud.
Em concordância, o professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Wilson Rotatori, explica que como o petróleo é uma commodity usada na cadeia produtiva de diversos produtos da indústria brasileira, as embalagens, os fertilizantes, os químicos, a produção agrícola e os combustíveis podem passar por elevação de preços num futuro próximo. “Nós vamos ver uma retração do consumo das famílias. A tendência é diminuir o consumo e pensar duas vezes antes de comprar um bem durável, como um automóvel, por exemplo.”
A analista de negócios internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Verônica Winter, afirma que “ainda não é possível mensurar o impacto em termos de fornecimento e produção, pois são inúmeras as variáveis que podem afetar o comércio bilateral num momento de guerra e demais desdobramentos”.
Dólar chega ao menor patamar em oito meses
Logo após os primeiros ataques entre Israel e Irã, o preço do dólar sofreu oscilações fechando a R$5,50 na última segunda-feira (16), pela primeira vez em oito meses – o menor patamar desde então.
De acordo com Hammoud, a queda do dólar pode ser compreendida por uma mudança estrutural: a moeda norte-americana vem perdendo valor em relação ao Real nos últimos meses, principalmente depois dos Estados Unidos travarem uma guerra comercial. “O risco da dívida americana vem aumentando bastante. Os Estados Unidos perderam o selo de bom pagador nos últimos tempos. Então, isso significa que muita gente tem vindo para o Brasil, com os títulos brasileiros ficando mais atrativos.”
Rotatori também considera que o dólar já estava enfraquecendo devido a desacertos da política interna do presidente Donald Trump. Porém, com a possibilidade de uma nova guerra, a pressão pela participação dos Estados Unidos, ainda indeterminada, pode exigir mais gastos, configurando a queda como uma resposta antecipada do mercado à situação financeira global. “Outro fator importante é o aumento da incerteza da economia mundial. Já tínhamos um conflito aberto, entre Ucrânia e Rússia. Agora temos um novo, envolvendo outro grande produtor de petróleo, o Irã, e uma potência militar como Israel. Temos uma situação crítica e toda vez que há um aumento de incerteza, de maneira generalizada, os consumidores se retraem”.