56% dos pequenos negócios que tentaram empréstimo em MG foram negados
Sebrae aponta que grande parte não conseguiu crédito por negativação da empresa ou falta de garantias

Cerca de 56% dos pequenos negócios de Minas Gerais que buscaram empréstimos bancários tiveram suas solicitações negadas. É o que aponta uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Grande parte dos empresários não conseguiu crédito por negativação ou falta de garantias ou avalistas. Especialista e representantes do setor empresarial apontam que exigências para conseguir os empréstimos são principais dificultadores.
Dos pequenos negócios de Minas Gerais, 31% buscaram adquirir créditos desde o início da pandemia. Desses, mais de 90% recorreram aos bancos, entre eles Caixa Econômica Federal (37%), Itaú (22%), Banco do Brasil (22%), Santander (18,8%) e Bradesco (13%). O estudo do Sebrae apontou que 56% não conseguiram o empréstimo e 22% ainda aguardam resposta das instituições financeiras.
A pesquisa do Sebrae Minas foi realizada em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, entre os dias 30 de abril e 5 de maio.
Negativação e falta de garantias
Entre os pequenos negócios mineiros que não conseguiram o empréstimo, as principais alegações foram a falta de garantias ou avalistas (14% dos entrevistados) e a negativação da empresa no CADIN/Serasa (14% dos entrevistados). Isto acontece porque as exigências para captação de crédito se mantém, mesmo com a crise em decorrência da pandemia do novo coronavírus. “Como o cenário não melhorou – na verdade, o cenário piorou -, essas empresas, que são as mais frágeis e que se encontram com o seu regime de caixa mais debilitado, realmente enfrentam essa dificuldade”, explica o analista do Sebrae na regional de Juiz de Fora, Gustavo Magalhães. “Enquanto essas normas não forem flexibilizadas, o cenário vai se manter.”
Segundo o especialista, é importante que os empresários tenham conhecimento real sobre sua situação financeira. Essas informações facilitam a tomada de decisões, especialmente por conta da ampla oferta de créditos. “Você tem uma centena de linhas com características específicas que vão servir ou não para o seu negócio. Às vezes, é um dinheiro que o custo financeiro é muito elevado e não vai ser benéfico para a empresa, então esse tipo de estudo é muito importante de ser feito nessa etapa.” Há, ainda, determinadas linhas que facilitam a aquisição de crédito por parte dos empresários, com exigências “mais amistosas”. Uma delas é outro projeto do próprio Sebrae, o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe).
Entre os empresários que não conseguiram empréstimo, 13% optaram por não adquirirem o crédito por acharem as taxas de juros oferecidas pelos bancos muito altas para a capacidade de pagamento da empresa. Outros 7% não chegaram nem mesmo a aprovar o cadastro, ou seja, não entregaram as certidões e documentos exigidos pelos bancos.
Projeto piloto
O conhecimento do próprio negócio vale não só para avaliar as decisões, mas também para cumprir os requisitos das instituições financeiras para analisar o empréstimo. Segundo Magalhães, a regional da Sebrae na Zona da Mata está lançando uma metodologia piloto para auxiliar as empresas no levantamento destes dados. “O empresário tem essas informações mais prontas na mão para poder tomar essas atitudes, tanto aquele que quer fazer a captação de recurso para se manter no mercado quanto aquele que quer retomar a atividade.” Os interessados podem contatar a unidade em Juiz de Fora para orientações sobre a nova ferramenta.
Juros altos e exigências são principais dificultadores
Em Juiz de Fora, de acordo com representantes do setor empresarial, as exigências por parte das instituições bancárias, bem com os altos valores de juros, têm se demonstrado os principais dificultadores na tentativa de contrair empréstimos. De acordo com o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL/JF), Marcos Casarin, o ideal seria maior flexibilização na avaliação dos negócios para oferta do crédito. “Às vezes, a empresa tem um potencial de R$ 1 milhão e está precisando de R$ 100 mil. Nem sempre estar negativado é a realidade da empresa.”
Para Casarin, há uma sensação de resistência para que haja realização dos empréstimos. “Às vezes, a empresa está passando por dificuldade em função da pandemia, e se ela está pegando dinheiro, é porque está precisando”, exemplifica. “Naturalmente, o banco só gosta de emprestar para quem não precisa, para que não tenha problema de recebimento depois. Aí tem que ter saldo médio, tem que ter um monte de coisa, que, eu falo, se (o empresário) tivesse isso tudo, não estaria precisando de dinheiro.”
Conforme apontado pela pesquisa do Sebrae, 13% dos empresários mineiros optaram por não adquirir o crédito por acharem as taxas de juros oferecidas muito altas. Tal fator também foi observado pelo Sindicato do Comércio (Sindicomércio). Desde o dia 18 de março, grande parte do comércio em Juiz de Fora foi restringido por decreto municipal. Segundo o presidente do Sindicomércio, Emerson Beloti, a incerteza de retomada das atividades econômicas em sua totalidade impede os empresários de adquirirem novas dívidas. “Os juros estão altos, e o empresário sabe que não consegue assumir uma responsabilidade futura, pois sabe que vai se enrolar lá na frente. Nós estamos, ainda, com 80% do comércio fechado, e isso está muito difícil.”
O movimento nas ruas centrais de Juiz de Fora nos últimos dias passam uma falsa impressão de que as pessoas estão consumindo, o que não está ocorrendo, de fato, segundo Beloti. “Nós não estamos em busca mais de qualquer tipo de sustento por lucratividade, nós estamos querendo pagar as contas. Uma empresa que fica 60 dias fechada praticamente não tem mais lucratividade no ano.”