Tradicional, concurso do Minas Láctea reúne sabores de várias partes do país
Resultado de premiação nacional de produtos lácteos será divulgado nesta quinta-feira
A 46ª edição do Concurso Nacional de Produtos Lácteos (CNPL) do Minas Láctea 2023 conta com a participação de representantes de todas as regiões do Brasil. Além da diversidade regional dos produtos, muitos estão competindo pela primeira vez: dos 68 laticínios inscritos, entre 15% e 20% nunca participaram do concurso antes. O resultado da premiação será divulgado nesta quinta-feira (20).
De acordo com Paulo Henrique Costa Paiva, um dos coordenadores do concurso, a representatividade de diferentes regiões do país chamou a atenção da organização. “Temos representantes do Amazonas, do Ceará, da Bahia, de Goiás, do Paraná e do Rio Grande do Sul, e no Sudeste, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas, com grande maioria”, conta.
Os laticínios inscritos no concurso competem em 12 categorias de produtos lácteos: queijo prato lanche, queijo provolone, queijo gouda, requeijão cremoso, queijo parmesão, queijo reino, queijo minas padrão, queijo azul, queijo tipo cottage, manteiga de primeira qualidade, doce de leite pastoso e produto inovador. Conforme Paiva, no caso do produto inovador, são avaliados quesitos como aparência, sabor e criatividade. Nos demais, são sete atributos: aspecto global (aparência), cor, textura, consistência, odor, aroma e sabor.
“O concurso é muito tradicional, tanto que estamos na 46ª edição. Pela credibilidade que o concurso tem, o laticínio recebe a premiação como um troféu e divulga essa premiação no rótulo depois”, conta o coordenador. “Isso aumenta o valor agregado do produto pelo fato de ter sido premiado.”
Procedimentos para avaliação
Para o julgamento, diversos cuidados são tomados, desde a forma de expor os produtos até o seu corte, considerando que são fatores que influenciam no próprio sabor. A forma de abrir um queijo parmesão, por exemplo, é por meio de uma faca que o corta até um certo ponto. Depois disso, o queijo é aberto com a ajuda de uma cunha, ponto essencial para mostrar a verdadeira textura do produto, de acordo com Fernando Magalhães, um dos coordenadores do concurso.
“É preciso olhar quando ele quebra, não quando ele está reto. Quando o queijo quebra, aí o provador vai ver se tem cristais de tirosina e vai medir a consistência interna do queijo naquela posição”, explica. “Quando o queijo parmesão está no seu auge da maturação, significa que a proteína quebrou tanto que sobra a tirosina, que é um aminoácido que parece uma pedrinha, um cristal. Aquilo demonstra que é um parmesão de primeira qualidade.”
Outros tipos de queijos requerem técnicas diferentes de corte para identificar a qualidade do produto. A temperatura também influencia na apresentação.
“Os queijos devem ser servidos à temperatura ambiente, nunca gelados. Nós trazemos os queijos para cá pela manhã para chegar agora, na hora do julgamento, eles estarem bem próximos da temperatura ambiente, quando o provador pode perceber os atributos sensoriais deles.”
Maior qualidade para indústria
O julgamento é feito por cerca de 35 jurados. Todos são especialistas do setor de laticínios, como professores, pesquisadores, consultores técnicos e profissionais de inspeção. Há cerca de dez anos, Jackson Fernandes de Freitas, engenheiro de alimentos da Secretaria de Agricultura do Espírito Santo, atua como juiz do CNPL. Nesta edição do Minas Láctea, ele está entre os avaliadores de doce de leite e de queijo provolone. De acordo com o especialista, a premiação contribui para uma melhora na qualidade de todo o setor, visto que incentiva os participantes a aperfeiçoarem os seus produtos.
“É interessante observarmos o que a indústria tem para oferecer. Nós podemos indicar onde os laticínios precisam melhorar, como também onde eles acertaram”, explica. “É um julgamento técnico, não do que é mais gostoso. Nós julgamos o que está dentro do padrão do que se espera daquele produto. Então, ao mesmo tempo que indicamos para a indústria onde eles estão acertando ou errando, também estamos consagrando uma marca por ter um produto de qualidade.”
Professor do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste), do campus de Rio Pomba, José Manoel Martins participa há anos como juiz do concurso, já tendo avaliado diversos tipos de produtos. Neste ano, o especialista julga os queijos do reino e prato lanche. Ele compartilha o pensamento de que a premiação enriquece a indústria de laticínios como um todo.
“A participação das indústrias é fundamental para o próprio crescimento e para que possamos divulgar para os consumidores aqueles produtos que se destacam. Todos os produtores têm um feedback da avaliação do seu produto e isso faz com que, em um meio tão rico como esse, de pesquisadores, profissionais da área e professores avaliando o produto, este seja o melhor feedback que uma empresa pode ter”, aponta.
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Vencedores anteriores celebram reconhecimento
Para quem já foi contemplado, o concurso vale como reconhecimento não só do produto, mas da história que cada um carrega. Em 2019, por exemplo, um dos premiados como produto inovador foi o queijo Calambau maturado na cachaça, do laticínio Paladar de Minas. De acordo com o proprietário, Geraldo Maciel Júnior, o produto foi inspirado em histórias dos tropeiros da cidade de Calambau (Presidente Bernardes). Essa figura, na época imperial, levava mantimentos para Ouro Preto.
“Em uma dessas viagens, a tropa foi balançando, e o pote de cachaça abriu e foi banhando um queijo por acidente. Conhecendo essa lenda, nós desenvolvemos o queijo Calambau maturado na cachaça”, diz. “Nós contamos a história e a cultura lá de Calambau, uma cidade pequena próxima a Ouro Preto. Se nós não sairmos e não divulgarmos o produto, quem não é visto não é lembrado. [O concurso] é uma forma que temos de divulgar o nosso produto e de outras pessoas conhecerem.”
Na edição de 2022, o premiado no queijo minas padrão veio do interior de São Paulo. O Laticínio Saboroso, de Palestina, ganhou o concurso na primeira vez que participou, de acordo com o proprietário Antônio Toledo. “Nós sempre participamos da feira, mas o concurso foi a primeira vez. Nós estamos com 27 anos de empresa, começamos bem pequeno, somos pequenos ainda e do interior de São Paulo. Vir aqui em Minas e ganhar foi muito gratificante.”
Conforme o produtor, vencer o concurso também trouxe reconhecimento para o laticínio. “O nosso produto não é o mais barato na região, mas é tido como um produto de qualidade”, diz. “A repercussão tem sido muito boa para nós na parte comercial, pois divulgamos muito o resultado de ter ganhado esse concurso.”