Mercado potencial pouco explorado


Por GRACIELLE NOCELLI

18/10/2015 às 07h00

Perobelli defende adoção de ações consorciadas (MARCELO RIBEIRO/15-10-15)

Juiz de Fora é a primeira opção de compra para 22 municípios da Zona da Mata, mas este público consumidor tem sido pouco aproveitado pelo comércio. As informações são de estudo realizado pela UFJF para o projeto Varejo Viável, uma parceria entre a instituição, o Sebrae e o Sindicato do Comércio (Sindicomércio-JF). O levantamento mostrou que 77% dos estabelecimentos comerciais pesquisados não vendem para cidades do entorno. Considerando os dados do IBGE sobre estimativa populacional de 2015, o mercado potencial é de 263.308 habitantes, o correspondente a quase metade do total dos juiz-foranos (555.284). Foram ouvidos 1.845 micro e pequenas empresas dos setores de varejo, serviços, restaurantes e similares localizados em todas as regiões da cidade. No atual momento econômico, em que empresários lutam para sobreviver em meio à crise, a conquista deste mercado consumidor se mostra uma alternativa necessária para reverter a situação.

“Constatamos que Juiz de Fora tem um comércio forte, diversificado, bem estruturado, mas com potencial pouco aproveitado”, avalia o professor da Faculdade de Economia e integrante do grupo interdisciplinar responsável pela pesquisa, Fernando Perobelli. Segundo ele, para que os pequenos negócios possam expandir o mercado é necessário preparação. “Condições para atender este público existem, o que falta é uma visão direcionada. Neste sentido, é importante que o empresariado trabalhe uma divulgação para além da cidade e realize ações consorciadas junto às entidades”, pontua. “A discussão sobre um horário diferenciado para o comércio também é importante, já que o setor é visto como referência para estes municípios.” Perobelli destaca que o universo de consumidores em potencial pode ser ainda maior do que o constatado na pesquisa quando consideradas as cidades que têm Juiz de Fora como segunda e terceira opções de compra.

 ‘Abertura de lojas aos domingos é necessidade’ Região central precisa de intervenções

Iniciado em abril, o estudo foi realizado por uma equipe de professores e estudantes das faculdades de Administração e Ciências Contábeis, Economia e do Instituto de Artes e Design da UFJF. Como mais de 90% dos estabelecimentos da cidade são de micro e pequenas empresas, estas foram o público-alvo da pesquisa. Os entrevistas foram feitas in loco nos 1.845 estabelecimentos. Além dos aspectos econômicos, foram abordadas questões sobre gestão, imagem e inovação. Os dados foram cruzados com outra pesquisa feita pela Faculdade de Economia, sobre potencial de consumo na região.

Para o presidente do Sindicomércio-JF, Emerson Beloti, a pesquisa marca uma nova fase para o setor. “O estudo foi bastante aprofundado e realizou um diagnóstico do comércio. Temos agora informações sobre as reais dificuldades dos empresários e poderemos nortear o nosso trabalho a partir delas.” Sobre o baixo aproveitamento do mercado consumidor dos municípios vizinhos, Beloti afirma que o próximo passo será a criação de mecanismos para fomentar esta expansão. “O pequeno empresário tem pouca mobilidade para chegar até esse público. É aí que entra o papel do sindicato de prestar este auxílio e oferecer o suporte para fazer as coisas acontecerem”, explica. “Juiz de Fora é a cidade polo da região, e os empresários do comércio precisam se conscientizar disso. A abertura das lojas em feriados e domingos, por exemplo, é uma necessidade.”

O gerente regional do Sebrae Minas, João Roberto Marques Lobo, informa que a entidade também irá intensificar ações para que o comércio local atinja os consumidores da região. “O setor tem capacidade para fazer este atendimento, o que é um aspecto muito positivo que o estudo nos mostrou. Agora é explorar a marca junto a estas cidades.”

A apresentação dos resultados da pesquisa será feita amanhã em seminário gratuito realizado no Ritz Hotel. Durante o evento, os participantes receberão uma cartilha com estratégias para as empresas. Também haverá palestras com o especialista em vendas Raul Candeloro e a designer Mariana Misk. Uma equipe do Sebrae também estará presente para orientações e agendamento de atendimento posterior.

Região Central precisa de intervenções

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Perobelli defende adoção de ações consorciadas (MARCELO RIBEIRO/15-10-15)

A pesquisa também trouxe uma nova percepção sobre o comércio da área central de Juiz de Fora. Apesar do grande número de fechamentos de lojas localizadas no Centro, conforme já relatado pela Tribuna, o espaço não corre risco de “esvaziamento” a curto prazo, segundo a análise de Perobelli. “Esta região está mais viva do que nunca e concentra a maior parte das atividades comerciais.” De acordo com a pesquisa, no local estão situados 40% do varejo, 28% dos estabelecimentos de alimentação e 41% da oferta de serviços pessoais. O especialista explica que esta concentração surte efeitos positivos e negativos. “A grande vantagem é que o consumidor sabe exatamente onde ir, esta conexão é direta. A curto prazo não há nenhum indicativo de esvaziamento do Centro.”

Quanto às desvantagens, ele ressalta que problemas como congestionamento, insegurança e encarecimento dos aluguéis tendem a se agravar com o tempo, caso não haja intervenção. “Estas questões podem contribuir para a deterioração do espaço. A violência já foi destacada por 24% dos empresários entrevistados como fator que prejudica os negócios.” Para Perobelli, também existe a necessidade de criação de outros polos, mais afastados, para atendimento dos consumidores, como já vem ocorrendo em São Pedro e Benfica. “Acredito que a inauguração do novo shopping pode ser um vetor de explanação. Desta forma, o comércio se torna ainda mais diversificado.”

Segundo o Sindicomércio-JF e o Sebrae, a partir dos resultados obtidos pela pesquisa, ações específicas com os estabelecimentos dos bairros também serão realizadas para incentivar o crescimento dos negócios nestas regiões.

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