Gripe aviária: impacto nos preços de frango e ovos não chega às gôndolas

Apesar de entraves nas exportações, variação de preços não tem relação direta com a doença


Por Fernanda Castilho

03/06/2025 às 06h00

Após o surgimento de casos de gripe aviária em animais criados em granjas comerciais brasileiras, no mês passado, alguns países que compram frangos e ovos suspenderam, totalmente ou parcialmente, as exportações dos produtos nacionais. A situação gerou apreensão, tanto internamente, no Brasil, quanto no mercado externo, no que se refere a uma possível queda ou elevação de preços e uma preocupação sobre o suprimento da demanda do produto. Apesar das discussões envolvendo o assunto trazerem incertezas e questionamentos, os preços destes produtos no Brasil apresentam estabilidade e tiveram pouca variação, ainda não envolvendo diretamente a doença. 

Segundo o Abrasmercado, indicador que acompanha as variações de valores de produtos da cesta básica, criado pela Associação Brasileira de Supermercados, publicado na última semana de maio, o preço do frango congelado aumentou 0,38%, e o dos ovos apresentou baixa de 1,29% em abril. Em comparação a março ou no acumulado dos últimos 12 meses, o índice apontou que os ovos, ao lado do arroz e da farinha de mandioca, foram produtos que mais apresentaram queda de preços.

De acordo com a última cotação de preços divulgada pela CeasaMinas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais), trinta dezenas de ovos estão sendo encontrados por R$205 em Juiz de Fora. O menor valor do produto é encontrado na Grande BH por R$174, e o maior,  por R$229 em Uberlândia.

Ainda segundo a Ceasa, entre maio e abril os preços de uma caixa com trinta dezenas de ovos caíram em até 38% na cidade. A caixa com ovos brancos de granja de tamanho médio fecharam o mês de maio com o valor de R$135; em abril, custavam R$219. A menor redução de preços foi na caixa de ovos brancos de tamanho pequeno, que saiu de R$135 para R$115, totalizando queda de 14,8 %.

Impacto ainda é incerto

De acordo com a economista e professora da FGV, Carla Beni, após casos de gripe aviária em granjas comerciais brasileiras, alguns países importadores de frangos e de ovos fizeram a suspensão desses itens, enquanto outros somente recusam aqueles provenientes das áreas afetadas. “Usamos os ovos para consumo interno, nosso volume exportado é pequeno, o que traz um menor impacto. Agora, com relação ao frango e à exportação, tudo depende da duração das restrições. Com o país livre da gripe aviária, podemos voltar a uma normalidade e não teremos grande impacto aqui dentro.”

A economista avalia que a continuidade das restrições às exportações pode levar a um aumento da oferta destes produtos no mercado interno, mas este movimento, por sua vez, não representa uma garantia de queda de preços do frango. “As granjas podem decidir manter a sua margem e segurar o preço. Tudo depende de como as coisas vão acontecer agora: se voltarão a exportar e se o setor continuará fazendo a manutenção de preços, inclusive para repor o prejuízo que tiveram”, explica.

Ao questionar se um possível aumento de preços pode gerar um “efeito cascata”, afetando outros produtos e setores, Carla Beni afirma que não há uma previsão. “Os ovos caíram de preço porque acabou a Quaresma e a demanda teve uma queda. Não tem nenhuma sinalização de elevação de preços que dê um problema em outras cadeias, por exemplo. Nem a parte de ovos e nem a parte de frango.”

Juiz-foranos divergem sobre percepção de preços

Nos comércios de Juiz de Fora, tanto proprietários de estabelecimentos quanto clientes dividem percepções sobre a situação. A Tribuna esteve nas ruas da cidade e conversou com pessoas que foram às compras de produtos relacionados.

O proprietário do hortifrúti Mercado Fazendão, Artur de Souza Resende, conta que há alguns meses os preços dos ovos aumentaram e ficaram mais caros devido ao período da Quaresma, mas, nas últimas semanas, após as celebrações da Páscoa, houve redução. Segundo a sua percepção, com a demanda deste produto diminuindo, os preços se estabilizam. “Quando tem aumento, a gente tem que repassar os preços, mas as vendas também diminuem, as pessoas acabam deixando de comprar.”

Apesar do foco das vendas do “Fazendão”, como é conhecido entre seus clientes, constituir-se de legumes, frutas e verduras, o estabelecimento também oferece alguns cortes de frangos embalados. Neste mês, ao adquirir a mercadoria para comercializar, o proprietário percebeu que o produto está ficando mais caro.

Do outro lado da rua, está o açougue especializado em cortes de frango Chic Frangos, comandado por Rubens Prata. O proprietário conta que não percebeu nenhum aumento ou queda nos preços no último mês. Mesmo quando há alguma variação maior dos preços deste produto, ele diz que não repassa ao consumidor e busca sempre absorver os custos para que a demanda continue estável.

Na porta do estabelecimento, frente à máquina de assar, Leonardo Figueira da Silva, 42 anos, encomendava um frango assado ao funcionário do açougue. Ele optou pelo frango assado como o prato principal do almoço, que custava R$42, por este ser um alimento prático para quem precisa de uma refeição rápida. Ele não percebeu aumento no preço do alimento.

Com percepção diferente, Amanda Abeni e Júnior Amorim, proprietários do restaurante Sr. Tempero, identificaram alta de 15% nos preços dos frangos no último mês. Diferentemente dos ovos, como apontam, que tiveram crescimento de quase 60% nos três meses anteriores, mas apresentam estabilidade agora. No restaurante, os pratos tidos como carro-chefe, de acordo com a proprietária, são o filé de frango à parmegiana e o churrasco misto, que leva pedaços de carnes grelhadas de frango, boi e porco. 

Morando juntos há alguns meses, Yolanda Azevedo, 30 anos, e Cássio Freitas, 36 anos, estavam juntos, pela manhã, fazendo compras na feira livre do Bairro São Mateus. Como contam, preferem usar ovos apenas para a preparação de pratos mais elaborados e buscam por promoções e por valores mais acessíveis do produto em diferentes estabelecimentos. Quanto ao frango, o casal diz comprar em menores quantidades para consumo, como bifes em açougues.

 

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