Golpe da Falsa Venda dispara e lidera reclamações bancárias no país

Fraude cresce 314% com avanço das compras on-line e atuação mais sofisticada dos golpistas


Por Mariana Souza*

15/11/2025 às 06h00

O golpe da Falsa Venda liderou as reclamações de clientes de bancos no primeiro semestre, com 174 mil registros – um salto de 314% em relação aos 42 mil casos contabilizados nos seis primeiros meses de 2024. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a fraude passou da terceira para a primeira posição no ranking nacional do período. Em Juiz de Fora, o Procon registrou 307 denúncias relacionadas ao golpe apenas no mês de outubro.

O crescimento desse tipo de fraude acompanha a expansão acelerada do comércio eletrônico no Brasil. O setor, que já vinha em alta, ganhou ainda mais força durante a pandemia de Covid-19, quando lojas físicas ficaram fechadas e consumidores migraram para o ambiente virtual. Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), 91% dos internautas brasileiros realizaram compras on-line nos últimos 12 meses, cinco pontos percentuais a mais que em 2019.

Com a proximidade das festas de fim de ano e o pagamento do 13º salário – cuja primeira parcela para celetistas será liberada até 28 de novembro – cresce a preocupação com o aumento de golpes digitais. O período concentra grande volume de compras, promoções e circulação de dinheiro, fatores amplamente explorados por criminosos.

De olho nos anúncios

A advogada especialista em direito digital e proteção de dados Bruna Oliveira explica que o golpe ocorre quando criminosos criam anúncios ou lojas virtuais aparentemente legítimos, mas o produto nunca é entregue. Eles copiam fotos e descrições de sites reconhecidos e oferecem preços muito abaixo do mercado para atrair as vítimas. De acordo com a advogada, o aumento desse tipo de fraude está ligado ao crescimento das compras on-line e ao uso das redes sociais para comercialização, especialmente em períodos de maior consumo, como promoções e datas comemorativas.

Bruna destaca que a profissionalização dos golpistas tem impulsionado os casos. “Os golpistas estão mais profissionais. Hoje conseguem criar páginas quase idênticas às originais, falsificam selos de segurança e até utilizam perfis verificados que foram hackeados.”

Ela acrescenta que o uso de inteligência artificial também favorece a prática criminosa, ao permitir a criação de textos, imagens e anúncios altamente convincentes, capazes de enganar até consumidores mais atentos.  Além disso, Bruna acredita que o uso de intermediadores de pagamento e de domínios muito semelhantes aos de grandes marcas ajudam a reforçar a falsa sensação de credibilidade.

Como se proteger

A especialista destaca que, mesmo com o avanço do profissionalismo dos golpistas, alguns indícios ainda podem ser percebidos e funcionam como alerta para os consumidores. Entre os sinais mais comuns estão erros de português, domínios diferentes do oficial, ausência de informações sobre a empresa e preços muito abaixo do mercado. Outra bandeira vermelha é quando a loja insiste no pagamento via Pix sem emitir nota fiscal. Nas redes sociais, perfis recém-criados, com poucos seguidores ou comentários genéricos também podem indicar risco, afirma Bruna.

Ela orienta que, antes de finalizar a compra, o consumidor verifique se o site possui CNPJ, endereço físico e canais de contato confiáveis. Também é recomendável pesquisar o nome da loja no Reclame Aqui ou em buscadores para identificar possíveis reclamações. Nas redes sociais, é essencial desconfiar de promoções muito fora da realidade e evitar clicar em links enviados por mensagens. Sempre que possível, prefira cartões virtuais temporários e evite transferências via Pix para pessoas físicas desconhecidas.

“Cai, e agora?”

Bruna orienta que, ao perceber que caiu em um golpe de falsa venda, o consumidor deve agir rapidamente. O primeiro passo é reunir todas as evidências: prints de conversas, anúncios, perfis usados pelos golpistas e comprovantes de pagamento. 

Em seguida, é recomendável registrar uma reclamação no consumidor.gov.br, plataforma oficial do Governo que intermedia conflitos entre consumidores e empresas. Depois, a especialista explica que é importante fazer um boletim de ocorrência de preferência presencialmente e informar ao banco imediatamente para tentar bloquear a transação pelo Mecanismo Especial de Devolução do Pix (MED). Se, mesmo assim, o problema não for resolvido, a advogada explica que o consumidor pode recorrer à Justiça para tentar recuperar o valor e responsabilizar os envolvidos.

O Procon reforça que sua atuação é limitada às relações de consumo. Como a investigação e a punição do golpista cabem exclusivamente à polícia, o órgão não pode agir diretamente contra o criminoso. No entanto, pode apurar a responsabilidade de bancos e empresas, que têm o dever de garantir a segurança das operações. Por isso, quando recebe queixas sobre cobranças indevidas, serviços não contratados ou produtos não reconhecidos – situações que podem indicar fraude – o Procon deve abre uma reclamação para verificar se houve falha da instituição.

A advogada destaca ainda que as redes sociais também podem ser responsabilizadas. A remoção de páginas e perfis falsos pode ser solicitada diretamente nos canais de denúncia das plataformas; e, em caso de demora ou omissão, o pedido pode ser feito judicialmente.

*estagiária sob supervisão da editora Fabíola Costa

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