Conheça Monk: quando um homem comum encontra expressão na arte urbana
Na coluna ‘Sem lenço, sem documento’ desta semana, veja a trajetória do artista que recorreu à pintura após luto

Era uma criança que gostava de desenhar — essa é a primeira memória com a arte que tem, ainda que não tenha recebido incentivo na infância que mostrasse que esse poderia ser um caminho para ele. Foi para uma faculdade de estudos tradicional e se casou cedo. Virou pai. Passou a trabalhar em uma fábrica. Essa foi sua vida por muito tempo, até que, em 2020, depois de ter sofrido a perda do próprio pai e no meio da pandemia de Covid-19, começou a pintar. É nesse momento que se torna Monk. Cinco anos separam o artista do homem. Nesse meio tempo, foram mais de 300 obras acumuladas, a maioria feita com material reciclado, e lambe-lambes espalhados em cidades como Juiz de Fora (onde nasceu), Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. O que começou como uma forma de lidar com o próprio luto se tornou uma maneira de misturar referências (que vão da música e do cinema ao tênis) e criar personagens para além de si mesmo.
Hoje Monk tem 48 anos e, assim como muitos artistas de rua, só os mais próximos sabem sua identidade fora das telas. É a forma que encontrou para inclusive colar lambe-lambes pela cidade sem ser identificado pelo seu nome real, apenas por sua identidade artística. Mas também foi a maneira que encontrou para manter, no começo, a sua atividade em segredo, pois quando estava se arriscando nas pinturas ainda tinha vergonha de mostrar seus trabalhos. “Achava que podia ser uma crise de meia idade”, ri. Mas não era, e hoje ele entende isso muito bem, porque reconhece de onde vêm seus impulsos, com referências que abrangem nomes como os pintores Keith Haring e Jackson Pollock.
O nome foi escolhido por conta do apelido que tinha, na prática de esportes, de monge, graças ao “jeitão tranquilo” que tem. Ele traduziu para o inglês, para diferenciar as duas personas, e passou a assinar as obras assim. Desde que começou a pintar, conta que não sabia ao certo o que estava fazendo, mas entendia que era um jeito de elaborar suas memórias e a ligação forte que tinha com o pai. “Comecei a pegar o que era lixo, na rua, e tentar trabalhar com isso”, relembra. E foi assim que suas telas foram tomando forma, com cores primárias, cheias de contrastes e linhas pretas. Também foi assim que personagens como o rato, a Capybara e o Moon Man começaram a aparecer de maneira recorrente nas telas.
Os materiais que usa são principalmente tinta acrílica e caixas de papelão que seriam descartadas, além do papel. Muitas dessas obras já ficaram com familiares e amigos, mas várias outras ele continua fazendo com o propósito de levar para a rua: ele entende que é nesse espaço onde está acontecendo um diálogo especialmente interessante entre artistas e população, como foi feito, por exemplo, por Banksy. E que passou a ser do seu interesse também para driblar as barreiras do mundo das artes. “Eu não me considero um artista, mas um apreciador de arte. Todo lugar que eu vou, cidade pequena ou grande, faço questão de colocar no itinerário um museu. Gosto de ter inspiração, de ver o que é diferente”, conta.
A liberdade do Moon Man
Monk não parou de trabalhar na fábrica, mudou de profissão ou deixou a família de lado depois de virar artista. Pelo contrário: a filha e a mulher, como ele conta, são as maiores incentivadoras, e foram quem disseram que ele devia criar um Instagram, ainda que sem revelar a identidade, para mostrar o próprio trabalho. Mas a maior mudança em sua vida veio na percepção sobre si mesmo que a arte trouxe. “Essa expressão me fez ficar mais aberto, mais sensível talvez. Me ajudou em um momento que eu realmente precisava”, conta.
Ele não sabe se um dia vai expor em uma grande galeria ou vai viver da arte — e é justamente dessa incerteza que surgiu o personagem Moon Man. “O ‘Moon Man’ é a liberdade de poder espalhar a arte por onde eu passo. Eu sei que não vou viver disso, que é um hobby. Sei que é um modo que encontrei de lidar com meu luto. Mas é bom poder fazer algo com o que eu penso, com o que eu vivo”, diz ele, que sempre teve uma atração pela arte de rua, o grafite e a pichação.
A satisfação que encontrou em poder trabalhar dessa maneira é o que permite a ele continuar ativo e fazendo planos, desde criar telas ainda maiores, levar suas artes para mais lugares até chegar um dia em uma esquina e ver que aquele lambe-lambe que ele colou não foi tirado do lugar. “Toda vez que eu passo e vejo que está no mesmo lugar, fico feliz. Agora não quero parar “, conta.











