Pequeno Museu dos Extraordinários Erros leva obras, oficina e reflexões para praças de Juiz de Fora
Atividades acontecem durante todo o mês de janeiro de maneira gratuita e com público livre

O Pequeno Museu dos Extraordinários Erros chega às praças de Juiz de Fora com uma proposta ousada: mostrar que errar faz parte da arte e da vida. A ideia, na verdade, é bastante evidente para as arte-educadoras do Tropeço Coletivo, Ana Beatriz Penna, Bárbara Filha, Gabriela Alves e Júlia Fregadolli, que idealizaram o projeto. Enquanto muitas pessoas se paralisam diante do erro ou mesmo da possibilidade de errar, é essa expressão que contém uma potência criativa importante — seja para expressar o sentimento que o erro gera, debochar dele ou mesmo pensar novos caminhos a partir do erro. Quatro praças da cidade vão receber o museu aberto e itinerante durante janeiro, que terá 11 obras de arte que exemplificam como o erro aparece na arte e, a partir disso, também podem participar da oficina de criação de bandeiras e estandartes que colocam o erro no centro do processo. A primeira atividade acontece neste domingo (4), na Praça Doutor João Pessoa (em frente ao Cine-Theatro Central).
As arte-educadoras começaram a pensar no projeto dentro das suas próprias experiências em sala de aula, principalmente durante a pandemia de Covid-19. Como contam, elas foram notando como o erro tem um poder paralisante que afetava os alunos, mas também as pessoas de todas as idades. Perceberam, também, que a arte proporcionava uma reflexão profunda sobre o assunto. “Um erro, muitas vezes, é uma denúncia de que algo não atingiu seu objetivo ou frustrou uma expectativa, seja sua ou seja do outro. Quando valorizamos o erro como potência criativa, passamos a olhar para ele como evidência de que algo novo, que não se tem controle, foi tentado, vivido ou criado por esses artistas”, explica Ana Beatriz.
Por isso, elas também pensaram que era importante ir atrás do público para provocar essa reflexão, que serve para gente de toda idade. E, a partir das obras, também colocar em prática o trabalho artístico sem medo do erro, com a oficina de estandartes que será oferecida no local. “Na prática, o erro vai ser incorporado na oficina como motivador. Cada pessoa vai ser convidada a refletir sobre os próprios erros e o que é o errar para si. É essa percepção que vai gerar o processo de criação do estandarte, que é o erro que é necessário transformar em bandeira”, continua Ana Beatriz Penna. Como ela também explica, no local vão ter tecidos, botões, canetinhas, cola, retalhos e outros materiais para que os participantes possam criar esse material simbólico. “O estandarte tem um caráter identitário, do que te representa, do que você é. O erro geralmente é algo que a gente esconde e sente vergonha, então é uma forma de convidar as pessoas a experimentar o processo dos artistas e, ao invés de esconder o erro, expor aquilo, entendendo que isso também é quem a gente é”, diz.
Para além disso, elas enxergam que a atividade é quase uma forma de repensar os próprios atos, que começa ali, mas que pode se estender por muito mais. “Queremos criar um espaço de desvio. Se tudo na nossa sociedade reforça essa culpa e condena o erro, queremos criar uma lacuna possível, em que ali, naquele momento, naquele instante e naquele lugar, errar seja encarado de outra forma”, diz Gabriela. A ação, realizada por meio da Lei Paulo Gustavo – Edital Multicultural, acontece todos os domingos de janeiro de 2026, das 10h às 14h, gratuitamente. O museu segue em 11 de janeiro na Praça do Dom Bosco; em 18 de janeiro na Praça CEU e em 25 de janeiro na Praça da Estação. Todas as atividades irão contar com acessibilidade em Libras.
Para contemplar o erro
A ação já começa quando o público pode ver o museu sendo montado diante de seus olhos: “Quando o público chegar na praça, já vai se deparar com um carrinho muito diferente, com guarda-chuva para um lado, varal para o outro, gaveta que puxa, portinha que abre, manivela que gira… Cada compartimento desse guarda um convite à reflexão sobre o erro e o errar”, explica Ana Beatriz. A escolha de fazer o museu nascer assim foi, para elas, uma forma de romper o espaço edificado de um museu e reforçar que toda arte é processual. “Fazer parte da ação contribui para desmistificar essa ideia que existe em torno da instituição de arte, esse distanciamento que às vezes pode acontecer”, explica Gabriela.
Elas entenderam, ainda, que essa era uma forma de evidenciar os próprios erros dentro do processo, e que as pessoas poderiam colaborar. “Nenhuma obra de arte ou processo artístico nasce pronto ou perfeito, por mais que a gente o encontre assim nas galerias. Não vemos o processo que tem por trás, e queríamos evidenciar esse processo de montagem do museu, incorporando-o na ação, para que as pessoas vissem também todos os percalços que encontramos”, continua ela.
Sem medo de errar
Se o medo de errar paralisa, é nesse espaço de desvio que a liberdade também pode fluir. É o que entende Bárbara Filha, que defende que esse espaço pode ser visto com generosidade para crescimento — afinal, sem erro não há vida. “Vivemos em uma sociedade na qual somos impelidos a competir e vencer o tempo todo, e isso traz muitos problemas de várias formas. Vemos muito isso nas crianças, adolescentes e até nos adultos. A obrigação de ser sempre um vencedor acaba adoecendo a gente. O nosso desejo é que a gente possa errar à vontade e cada vez melhor”, diz ela.










