Retrospectiva 2025: Com papelão, menino de 13 anos dá vida a dinossauros de brinquedo e acende debate sobre reciclagem

Na retrospectiva da Tribuna, especialista explica como o exemplo de Benício aproxima crianças da responsabilidade ambiental


Por Maria Luiza Guimarães*

28/12/2025 às 07h00

papelão benício
Foto: Leonardo Costa

O T-Rex e o estegossauro estão entre os dinossauros favoritos de Benício, garoto de 13 anos que transforma sua paixão por essa espécie em arte. Usando papelão, ele cria brinquedos com detalhes impressionantes, como patas e mandíbulas articuladas. Em outubro deste ano, a Tribuna conheceu o talento do jovem artista de perto e registrou sua produção. Agora, relembramos esse trabalho criativo em nossa retrospectiva.

O interesse de Benício em fazer seus próprios brinquedos começou em janeiro deste ano e, desde então, ele tem conquistado a vizinhança do Bom Jardim, bairro da Zona Leste de Juiz de Fora, onde nasceu. Nesse processo criativo, o garoto conta com o incentivo da mãe, Eliane Damasceno, e o apoio de colegas e professores que acreditam no seu talento.

Desde pequeno, ele sempre teve uma afinidade com atividades manuais. Desenhar e pintar estavam entre suas brincadeiras favoritas. Apaixonado também pelos filmes “Jurassic Park”, “Jurassic World” e pelo mundo dos dinossauros, ele encontrou uma maneira de unir sua paixão pela arte e pela paleontologia, criando suas próprias versões dos gigantes pré-históricos.

E esse talento vem de casa: sua mãe, Eliane, também é artista e trabalha com biscuit, e foi dela que ele herdou o gosto pelo artesanato. O processo criativo começa com Benício desenhando o perfil do dinossauro em folhas de papelão. Para tornar o brinquedo tridimensional, ele repete o recorte várias vezes e vai colando as partes até que o animal comece a tomar forma. Na etapa final, o menino pinta, reproduzindo as cores e texturas dos dinossauros que vê nos filmes. Cada criação pode levar mais de uma semana para ficar pronta, mas o resultado vale o esforço. Além de patas e mandíbulas articuladas, suas obras mostram como materiais simples, que iriam para o lixo, podem ganhar uma segunda vida.

1 em cada 3 brasileiros ainda não separa o lixo

Se a mudança de hábitos na vida adulta costuma ser lenta e cheia de resistências, na infância o processo é quase o inverso, tudo chega com mais naturalidade. Por isso, introduzir noções de consumo consciente e manejo correto dos resíduos desde cedo não é apenas uma orientação ambiental, é uma estratégia de futuro. Segundo Samuel Castro, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), quando as crianças aprendem a reutilizar os materiais, separar, descartar e compreender o destino do lixo, elas se tornam “agentes ambientais” capazes de transformar o meio onde vivem. Seja na escola, em casa ou nas demais rodas em que estão inseridas, elas repetem boas práticas, cobram os adultos e ajudam a construir uma cultura de responsabilidade que reverbera.

Ignorar esse início, por outro lado, cobra seu preço. A baixa adesão da população à coleta seletiva compromete toda a engrenagem da reciclagem e os números mostram isso com clareza. Embora 99% dos brasileiros considerem a reciclagem importante para o futuro do país, segundo uma pesquisa realizada pela Datafolha em 2024, a prática ainda não acompanha o discurso. Apenas 32% dos municípios oferecem algum tipo de coleta seletiva, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis). E mesmo onde o serviço existe, a participação é limitada: um em cada três não separa seus resíduos. Esse cenário, como explica o professor, reduz a recuperação de recicláveis, compromete a eficácia das políticas públicas e aumenta os custos para manter o sistema, além de desperdiçar oportunidades de gerar emprego, renda e melhor aproveitamento dos recursos.

Educação ambiental, um caminho coletivo

Para evitar esse ciclo, o especialista destaca metodologias que se conectam diretamente à infância, como atividades lúdicas, jogos, contação de histórias e ações ao ar livre que aproximem as crianças do meio ambiente. É nesse contexto que iniciativas como o projeto de extensão “Recicle Ambiental”, coordenado por Samuel em parceria com a Prefeitura, vêm atuando. Há três anos, o programa leva educação ambiental de forma contínua às escolas municipais, envolvendo alunos, professores e também pesquisadores da UFJF. O objetivo é duplo: despertar consciência e produzir dados que possam orientar novas políticas públicas.

Mas nenhuma dessas ações funciona de maneira isolada. A Política Nacional de Resíduos Sólidos defende a ideia de responsabilidade compartilhada, e isso inclui desde o poder público até consumidores, comerciantes e indústria. Em Juiz de Fora, leis municipais atualizadas reforçam o compromisso com a educação ambiental contínua. O recado, no fim, é simples: quando escolas, famílias e governo assumem juntos o cuidado com o que produzimos e descartamos, criam bases sólidas para uma cidade mais limpa, saudável e sustentável. E quanto mais cedo esse movimento começa, maior é o impacto.

 

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*Estagiária sob supervisão da editora Cecília Itaborahy 

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