Fabiano Moreira lança livro de fotografias ‘Vai, caminhante’
Lançamento acontece nesta sexta-feira, nos jardins do Mamm e do Memorial da República
Uma espécie de alma do “SextaSei – Baixo Centro”, que durante a pandemia alcançou certo protagonismo na divulgação da arte e da cultura de forma nada ortodoxa, Fabiano Moreira está além do jornalismo e traz para o leitor muito das observações capturadas em suas andanças pela cidade. Andanças mesmo, porque ele não para nunca, simplesmente fervilha, disparando o olhar por todos os lados. Do início da carreira nas páginas da Tribuna na década de 1990, como integrante do Caderno Dois, até os dias atuais, o repórter ganhou asas de crítico, aguçou a criatividade em textos e voou livre em experimentações artísticas e pessoais para o lançamento de “Vai, caminhante”, com uma série de fotografias intrigantes sobre a cidade que ainda não conhecemos.
O “livro de artista”, como o jornalista faz questão de frisar, chega ao público nesta sexta-feira (29), às 18h, nos jardins internos do Memorial da República Presidente Itamar Franco e do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), ao lado do estacionamento, com sessão de autógrafos e projeção de imagens que partem do Mamm para alcançar as paredes externas do Memorial. A tiragem está limitada a 50 exemplares que serão distribuídos gratuitamente entre os presentes. A noite ainda reserva o som dos DJs Alex Paz e Pedro Paiva, bem ao gosto do dono da festa, eterno apaixonado pelas baladas e com uma coleção de histórias a contar.
Enquanto fala sobre “Vai, caminhante”, Moreira evoca a amiga Mariana Bretas, curadora que traz à tona todo o projeto com sua Sala da Casa, um espaço expositivo temporário na Rua Oswaldo Aranha, no Bairro São Mateus, que chegou a lançar outros dois livros: “Chekmate”, de César Brandão, e “Variação de unidade”, de Josimar Freire. A atual experiência traz páginas que registram as fotografias do autor pelas trilhas da cidade em projeto gráfico da designer Nathália Serra. A proposta se assemelha à de um jogo de tabuleiro, onde cada um perfaz sua própria trajetória a partir dos caminhos/conteúdos revelados pelo andarilho inicial, o escritor. Como a própria Mariana assinala, a obra é uma viagem intensa, que permite múltiplas interpretações a partir da linguagem livre e sem artificialismos das ruas, impressa na urbe em constante mutação.
Histórias para espalhar
Alma inquieta sempre a observar a paisagem e as pessoas ao redor, Fabiano Moreira começou suas caminhadas três anos atrás tentando parar de fumar. Conseguiu. E ainda obteve um plus, que conta, orgulhoso: perdeu uns quilinhos que o incomodavam. Ao encontro que trouxe informações sobre seu livro e o convite acalorado “não deixe de ir!”, ele chega depois de passos acelerados em volta do anel viário da UFJF, em busca da rampa de acessibilidade construída em frente à Faculdade de Letras do Instituto de Ciências Humanas. Com o suor escorrendo pela testa, e já sem o blusão com capuz para enfrentar o frio da noite no Campus, diz que estava à procura do trabalho que o Coletivo Agrupa está realizando no local, para a conclusão do projeto “Mosaico Polímata: Tributo ao conhecimento”.
No começo de suas andanças por Juiz de Fora, Moreira dedicava 60 minutos ao exercício, cravados no relógio. Com a pandemia, passou para uma hora e meia, diariamente, sem se importar se fazia chuva ou sol. Traçou inúmeros roteiros com esse tempo de caminhada, a partir de sua atual residência, no Bonfim, em direção aos bairros Poço Rico, Mariano Procópio, Vitorino Braga e proximidades do Terminal Miguel Mansur, em frente à Mata do Krambeck. “Foi nesse mesmo período que comecei a fazer linhas, no Instagram, com três fotos diárias que, na maioria das vezes, têm um tema ou narrativa. É o meu jeitinho”, diz. E é mesmo, já que sempre descobriu as próprias pautas e fez delas narrativas para seduzir o leitor.
Menino criado em casa antiga, com quintal, pés de mexerica, horta e galinheiro, Moreira relembra a infância na Rua Tietê, em São Mateus, de onde guarda boas recordações, brincadeiras com tatus-bolinha guardados em vasilhas com água. As saudades de morar em um lugar assim o instigaram a “colecionar” casas, no Instagram, tendo como elo a hashtag #jufascasas. “Foi salvando estas fotos para o livro da Sala da Casa que percebi como venho retratando a arte urbana, os letreiros do comércio, o patrimônio histórico urbano, os monumentos, as praças, a natureza do Jardim Botânico da UFJF e do meu querido Museu Mariano Procópio, amor da minha infância nos pedalinhos com os ‘macaquinhos do terror’, e contando pequenas histórias urbanas da Jufas que amo e odeio na mesma intensidade.”
Enfim, o reencontro
Antiga conhecida de Moreira, dos tempos em que compartilhavam o espaço do mesmo colégio, ele uns anos à sua frente, Mariana Bretas acabou reencontrando o colega em circunstâncias especiais, que lhes proporcionou uma amizade que vem se aprofundando em parcerias e bons conselhos, alguns até pessoais. “O reencontro aconteceu há um ano, mais ou menos, através de @herb.ar.ium. O trabalho que desenvolvi para a disciplina ‘Tópicos em artes, cultura e linguagens’, do professor Fabrício Carvalho, me permitiu entrar no universo do Instagram e chegar às postagens que ele fazia. Aqueles passeios virtuais resultaram em uma aproximação deliciosa com Juiz de Fora, minha cidade natal, na qual voltei a residir depois de mais de 20 anos, para a realização do pós-doc na UFJF.”
Ela ressalta como foi importante revisitar a cidade e passear pelas ruas de Juiz de Fora através das impressões de Moreira, principalmente das fotos que registravam detalhes ternos e curiosos. “Ainda em plena pandemia, sem quase sair de casa e no trabalho remoto, essas imagens me fizeram sentir acolhida em um momento de muitas incertezas e transformações. Depois, realizei a Sala da Casa, que sempre teve o apoio da coluna ‘SextaSei – Baixo Centro’, com o Fabiano divulgando o que acontecia ali. O ‘livro de artista’ é resultado dessa parceria e pesquisa, celebrando o olhar atento às belezas e à poesia que há pelos cantos da cidade, onde cada esquina reserva a possibilidade de um encontro.”
Moreira frisa, por fim, a importância do projeto-laboratório “Sala da Casa”, que faz parte da pesquisa pós-doutoral de Mariana, intitulado “Da escrita urbana à floresta biblioteca, o livro de artista”, desenvolvido para o Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da UFJF.
Informações
Lançamento: “Vai, caminhante”, de Fabiano Moreira. 29 de julho, 18h, no Memorial da República Presidente Itamar Franco. Rua Benjamin Constant 790, Centro. Tel.: (32) 3212-2078 e 2102-3964.